Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Psicologia do esporte evoluiu em todo o mundo, menos no futebol brasileiro

Há mais de 20 anos, defendo a presença do psicólogo nos clubes e na Seleção

Há mais de 20 anos, defendo a presença do psicólogo nas comissões técnicas dos clubes e da Seleção e, ao mesmo tempo, critico as palestras de autoajuda, motivadoras, muitas óbvias e banais, que, felizmente, são hoje muito menos frequentes que em anos anteriores. 

A nova moda é o coach, para aumentar o nível de resultados positivos.

Seria a mesma coisa?

Por gostar e acreditar na importância dos fatores emocionais, na vida e em todas as atividades humanas, fiz, quando era estudante e médico, cursos de medicina psicossomática e psicanálise. Quase me tornei um psicanalista.

No domingo passado (19), escrevi que faltou, na Rússia, um psicólogo na comissão técnica da Seleção. Entre tantos motivos para a eliminação, o principal foi enfrentar uma seleção do mesmo nível.

Mencionei ainda que, na Copa de 2014, apesar da ajuda de uma psicóloga a Felipão, o Brasil foi, emocionalmente, um desastre.

Maria Regina Ferreira Brandão, especializada em psicologia do esporte e que já tinha trabalhado com Felipão, antes da Copa de 2014, me mandou um e-mail com um esclarecimento: “A avaliação psicológica no esporte é a linha de base para um trabalho de preparação psicológica, que, à época, não ocorreu por decisão do treinador”. 

Está explicado. 

Corrijo o que disse.

Baseei-me em informações divulgadas muitas vezes, antes, durante e depois do Mundial de 2014.
A psicologia do esporte evoluiu em todo o mundo, menos no futebol brasileiro, por desconhecimento e porque dirigentes e treinadores, obcecados pelas estatísticas, pelas estratégias e pelo planejamento, desprezam o trabalho psicológico, como se fosse algo apenas subjetivo, pantanoso, pouco prático. 

Existe ainda um preconceito machista contra a presença das mulheres psicólogas no futebol masculino.

Nos últimos tempos, aumentou minha impressão de que os jogadores brasileiros, nas decisões, possuem menos preparo emocional que os europeus. Isso é evidente, desde o início de algumas partidas, pelo intenso nervosismo, pela falta de lucidez nas escolhas e por bisonhos erros técnicos. 

A ansiedade é benéfica, pois aumenta a concentração e a vibração dos atletas.

Porém, quando excessiva, inibe e atrapalha.

Uma das razões para essa insegurança psicológica dos jogadores brasileiros seria a enorme pressão que sofrem para ganhar, muito maior que a dos europeus, como se os brasileiros fossem para uma guerra. É ganhar ou morrer.

Para diminuir a responsabilidade, a transferem para os “supertécnicos”, à espera que eles tragam soluções mágicas para resolver o jogo.

O guru Tite perdeu a chave do triunfo na Copa. Felipão já é tratado, antes das conquistas, pelos torcedores do Palmeiras e por parte da imprensa, como um super-herói.

Nelson Rodrigues, que diziam não entender de futebol, mas que compreendia muito bem o ser humano, falava que “quem ganha e perde as partidas é a alma”. Acrescentava: “É preciso alma até para chupar um Chicabon”.

Quando cito frases de um autor, não tenho a intenção de parecer erudito. 

Sou vaidoso, mas não sou idiota. Cito, pela admiração que tenho pelo autor e, principalmente, porque ele, com uma frase, explicou o que não consegui dizer com mil palavras. Facilita para o leitor.

Tenho consciência de minha ignorância. 

Somos todos ignorantes, uns mais que outros, com exceção dos prepotentes, que acham que sabem tudo.

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