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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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O Brasil precisa de um treinador de futebol, não de um guru

Seleção começa nova etapa após suspensão da canonização de Tite

Após a Copa do Mundo da Rússia, começou um novo ciclo na seleção brasileira: o de Tite como técnico, e não guru
Após a Copa do Mundo da Rússia, começou um novo ciclo na seleção brasileira: o de Tite como técnico, e não guru - Carl de Souza/AFP

Existe, entre os torcedores e a crônica esportiva, quase um consenso de que Tite deveria continuar, embora a seleção não tenha feito uma única brilhante partida na Copa. Tite reconheceu que a ausência de Renato Augusto desestabilizou taticamente o meio-campo.

Enfim, passamos a enxergar o óbvio de que, há muito tempo, o Brasil não é o país do futebol, a única seleção que tem vários craques nem o principal favorito nos mundiais. A excepcional campanha nas Eliminatórias foi uma ilusão. Contra fortes adversários, as chances são iguais. Foi o que ocorreu em 2006, na derrota para a França, em 2010, para a Holanda, em 2014, para a Alemanha, e, em 2018, para a Bélgica. A única surpresa, um vexame, foi o 7 a 1.

Isso não significa que o Brasil não possa evoluir e passar a ter mais chances de vencer. Entre as principais dificuldades, faltam um craque no meio-campo, que jogue entre o volante Casemiro e os meias atacantes, e um excepcional centroavante, que não foi Gabriel Jesus nem seria Firmino, dois bons jogadores.

Em todo o mundo, há poucos grandes centroavantes. Uma das razões para isso é a ausência de um segundo atacante, próximo a ele, para formar uma dupla, já que os meias atacantes atuam pelos lados e os meio-campistas jogam longe da área. 

As melhores equipes do mundo possuem uma dupla na frente, como a França, com Griezmann e Giroud, o Uruguai, com Cavani e Suárez, o Real Madrid, que tinha Cristiano Ronaldo e Benzema, o Barcelona, com Messi e Suárez, e o Bayern, com Müller e Lewandowski. O novo técnico do Paris Saint-Germain, o alemão Thomas Tuchel, já escalou Neymar pelo centro, perto de Cavani.

Será que Tite não deveria mudar a formação tática e jogar com dois volantes (Casemiro e Arthur), Coutinho pela esquerda, Douglas Costa ou Willian pela direita, e Neymar formando dupla com Firmino ou Pedro, estratégia que o técnico usou, em alguns momentos, na Copa?

As críticas feitas a Tite, pela ausência de um psicólogo na comissão técnica, e a bajulação ao treinador tiveram influência no resultado e na atuação do Brasil? Acho necessária a presença do psicólogo, mas não sei se teve tanta importância. Felipão, na Copa de 2014, tinha uma psicóloga para ajudá-lo na avaliação emocional dos jogadores, e a Seleção foi, emocionalmente, um desastre. 

Antes e durante a Copa do Mundo da Rússia, critiquei a cobertura gentil da imprensa, mas não vi, no Mundial, nenhuma postura de relaxamento, soberba, do técnico e dos jogadores durante as partidas.

No futebol, ainda mais em uma Copa do Mundo, surgem dezenas de razões para explicar os resultados, que têm pouca ou nenhuma importância.

Dos novos convocados, as surpresas foram Andreas Pereira, do Manchester United, Felipe, do Porto, e Everton, do Grêmio. Hugo, goleiro do Flamengo, foi chamado porque ficou estabelecido que haveria um jogador sub-20. Porém, deveria ser de outra posição, como na lateral direita. No gol, já existem excelentes e jovens opções. 

As outras novidades já eram esperadas, como Lucas Paquetá, Arthur e Pedro, além de Dedé, Fabinho e Alex Sandro, ótimos e já experimentados jogadores. Dos veteranos da seleção, continuam Renato Augusto e Thiago Silva. 

Estranha foi a ausência do atacante Gabriel Jesus, que, além de jovem, foi bastante prestigiado na Copa. 

Começa uma nova etapa. Sai o guru, o messias, como Tite foi tratado, e entra o técnico.

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