Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Tostão

Deficiências das equipes brasileiras são cada vez mais visíveis

Futebol no país vive de muitos chutões, espaços entre os setores, tumultos e briguinhas

Assim como o Cruzeiro venceu Atlético-PR, Santos, Flamengo e Palmeiras em jogos de mata-mata fora de casa, não será surpresa se ganhar também do Boca Juniors, na Bombonera.

Cruzeiro, Boca, Palmeiras, Grêmio e River estão no mesmo nível técnico. O Cruzeiro sabe jogar essas partidas, pois marca e contra-ataca bem, sem recuar tanto, para evitar a pressão do adversário. Arrascaeta faz falta.

O Palmeiras, mesmo fora de casa, é favorito para vencer o Colo-Colo, do Chile. Antes da derrota para o Cruzeiro, impressionou-me como a maioria das pessoas, torcedores ou não do Palmeiras, achava que o time tinha muito mais chance de ganhar, por causa de Felipão.

Palmeirense Borja e cruzeirense Lucas Silva disputam bola na partida de ida das semifinais da Copa do Brasil
Palmeirense Borja e cruzeirense Lucas Silva disputam bola na partida de ida das semifinais da Copa do Brasil - Paulo Whitaker - 12.set.18/Reuters

Parece até que, com ele, seria quase impossível perder jogos mata-mata, em casa, mesmo contra um adversário do mesmo nível, com um bom e experiente treinador, como Mano Menezes.

Experiência não é apenas tempo de trabalho. É saber usar bem o tempo e as atividades profissionais, para aprender e evoluir.

Apesar do 7 a 1, não podemos diminuir os méritos e sucessos de Felipão, com tantos títulos, mas tratá-lo como um supertécnico, imbatível, é demais.

Ao contrário do adorado Felipão, o jovem técnico Barbieri, do Flamengo, tem sido bastante criticado, e a maioria pede sua dispensa.

Os corvos estão impacientes. Escuto, todos os dias, milhares de vezes, discussões sobre o motivo pelo qual o Flamengo não faz gols, mesmo com três meias talentosos (Diego, Paquetá e Éverton Ribeiro), além de dois bons atacantes, caríssimos, Vitinho e Uribe.

Há várias teorias. Nenhuma convence, nem a minha. Penso que os três meias atuam muito distantes da área e do centroavante.

Como Vitinho atua aberto, e os defensores jogam muito atrás, colados à grande área, e o centroavante, isolado, colado à outra, existe um enorme espaço para os três meias atuarem.

Chegam cansados perto do gol ou são desarmados no caminho. Além disso, tentam, mas não conseguem voltar para marcar, no próprio campo.

Paquetá, repito, tenta ser, ao mesmo tempo, excepcional meio-campista e meia-atacante. Não consegue. Os grandes meio-campistas do mundo, somente de vez em quando, entram na área para fazer gols, assim como os melhores meias-atacantes raramente voltam ao seu campo para desarmar e iniciar as jogadas ofensivas.

O modelo do Flamengo é o do Manchester City, com um volante e dois meias, que faz muitos e sofre poucos gols.

Além da grande diferença individual, o time inglês atua de uma maneira compacta. Pressiona e recupera a bola mais à frente, onde a perdeu. Há uma grande proximidade entre os jogadores, e os dois meios-campistas passam quase todo o jogo no campo do adversário. Percorrem distâncias menores.

No fim de semana, mudei o canal com frequência, o que não é habitual, e, em quase todas as partidas do Brasileiro, o time que atacava e que perdia a bola deixava um enorme vazio no meio-campo para o contra-ataque adversário, já que os defensores ficavam muito atrás.

O futebol no Brasil vive de excessos e carências, de presenças e ausências, de muitos chutões, espaços entre os setores, tumultos, briguinhas, reclamações, chiliques e também de poucos gols, poucos passes, pouca lucidez e pouco talento individual e coletivo.

Corre-se muito e joga-se pouco. As ausências, muitas vezes, são mais marcantes que as presenças. Assim é na vida. Somos também o que não somos.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.