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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Querer vencer e convencer passou a ser secundário, fantasia de sonhadores

Além da "caixinha de surpresas", há dezenas de outros comentários prontos no futebol

O excepcional Modric é o melhor do ano. Messi, seguido de Cristiano Ronaldo, é o melhor do mundo, e Marta é a melhor do ano, do mundo e de todos os tempos.

O futebol é uma "caixinha de surpresas" e também um festival de comentários prontos. Alguns são pertinentes e sobrevivem ao tempo.

Outros têm relativa importância, e há os que não têm nada a ver com a realidade atual. São chavões que se repetem, por preguiça mental ou pela compulsão à repetição.

Felipão terá o desafio de comandar a tentativa de virada do Palmeiras sobre o Cruzeiro, no Mineirão
Felipão terá o desafio de comandar a tentativa de virada do Palmeiras sobre o Cruzeiro, no Mineirão - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação

Se o treinador muda a tática e/ou algum jogador e a equipe perde ou ganha, é por causa da conduta do técnico, mesmo se houver dezenas de outros fatores envolvidos.

Se um jovem treinador perde várias partidas, a razão é a inexperiência e a falta de comando. Se é veterano, será porque está ultrapassado. Há dezenas de outros comentários prontos.

Nesta quarta (26), não há favoritos nos dois jogos da Copa do Brasil. Não entendo a razão de as duas partidas serem no mesmo horário e no mesmo dia.

Palmeiras e Cruzeiro possuem características parecidas. São times que marcam muito bem, sem recuar tanto.

O Palmeiras contra-ataca com mais velocidade, e o Cruzeiro, com mais troca de passes. Os dois são muito bons nas jogadas aéreas ofensivas e defensivas. Possuem o mesmo desenho tático, embora o meia de ligação do Palmeiras (Moisés) marque mais que o do Cruzeiro (Thiago Neves).

Os dois treinadores são gaúchos, racionais, utilitaristas. 

Seria uma característica da escola gaúcha de treinadores, que predomina no futebol brasileiro? Uma qualidade importante de Renato Gaúcho seria unir o pragmatismo e a competência gaúcha com a leveza e a improvisação carioca?

Falam que Felipão evoluiu, porque trabalha ao lado de uma comissão técnica científica. As TVs mostram muitas imagens do técnico, durante as partidas, conversando com o auxiliar Paulo Turra. Murtosa, o fiel escudeiro, ficava sentado, quietinho, sem falar nada, pensando no jogo ou na vida.

Felipão evoluiu, mas preserva antigas condutas. Quando dirigia o grande time do Palmeiras, no fim dos anos 1990, sempre que queria garantir o resultado, substituía o excepcional Alex por mais um zagueiro ou por um volante.

Quando queria virar o jogo, tirava também Alex e colocava mais um atacante para o jogo aéreo. Agora, para mudar o jogo, a estratégia é escalar os dois volantes pitbull juntos, Felipe Melo e Thiago Santos, além do centroavante Deyverson. São os xodós do técnico.

Aliás, Felipão, tido como grande gestor de grupo, deveria convencer Deyverson a não usar mais de ridículos gestos teatrais.

Na outra partida, o Corinthians, mesmo em casa, vai ter muitos cuidados defensivos, para não sofrer gols e fazer um. Para isso Jair Ventura foi contratado.

Após a vitória sobre o Atlético-MG, Barbieri deve estar com grandes dúvidas, se mantém a equipe com Arão e Trauco, se escala Diego, ao lado ou no lugar de Arão, e se coloca Paquetá de centroavante, pela esquerda ou do meio para frente, como contra o Atlético-MG, sem voltar para marcar e iniciar as jogadas do próprio campo.

Qualquer técnico experiente teria as mesmas dúvidas. O melhor lugar de Paquetá é mais perto da área adversária.

O que Barbieri fizer será elogiado, se o time ganhar, e criticado, se perder, independentemente da atuação da equipe. O comentário já está pronto. Querer vencer e convencer passou a ser algo secundário, uma fantasia de sonhadores e filósofos de botequim.

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