Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Acostumado a marcar mais atrás, Palmeiras terá de pressionar Boca Juniors

Argentinos vão atuar com segurança, sem recuar tanto e tentar o contra-ataque

Se Paquetá, livre, na marca do pênalti, tivesse feito o gol no fim do jogo, a diferença entre Palmeiras e Flamengo seria de apenas um ponto, e o time paulista estaria hoje muito mais tenso, com a possibilidade de não ganhar o Brasileiro e de ser eliminado da Libertadores, ainda mais que ficou fora da Copa do Brasil. Com o empate, o Palmeiras é o grande favorito para ganhar o Brasileiro.

Apesar da desvantagem de dois gols, as chances do Palmeiras nesta quarta (31) são razoáveis. É a hora de a onça beber água. Para isso, terá de mudar a estratégia.

Acostumado a marcar mais atrás e contra-atacar com velocidade e bolas longas, o time terá de pressionar, tentar fazer logo um gol e incendiar a torcida.

Felipe Melo dá um carrinho na bola diante de Zarate, do Boca Juniors, na partida de ida da semifinal da Libertadores
Felipe Melo marca Zarate, do Boca Juniors, na partida de ida da semifinal da Libertadores - Agustin Marcarian/Reuters

O Boca Juniors, como fez contra o Cruzeiro, no Mineirão, quando tinha também dois gols de vantagem, vai atuar com segurança, sem recuar tanto e tentar o contra-ataque. Contra o Cruzeiro, usou dois jogadores velozes pelos lados, Pavón e Villa, que marcavam ao lado dos três volantes, formando uma linha de cinco, e ainda chegavam à frente.

Discordo da maioria que houve falha individual e/ou de posicionamento nos dois gols do Boca, no primeiro jogo. Sempre que acontece um gol de escanteio, colocam a culpa no defensor ou no goleiro, que não sai do gol.

Os méritos, no primeiro gol, foram de quem cobrou, com força e de curva, e de quem cabeceou, com eficiência. A bola passou por cima de Felipe Melo, caiu, rapidamente, entre ele o zagueiro e chegou ao ponto exato por acaso, e não porque o cobrador calculou o lugar certo. No segundo gol, os méritos são do centroavante Benedetto, pelo belo e imprevisível drible, além da precisão na finalização.

Com o auxílio da tecnologia, os analistas têm hoje muito mais condições de comentar os detalhes dos lances de gol. Porém, com frequência, exageram, como se tudo fosse programado e ensaiado. Há um cientificismo excessivo em tentar explicar tudo, mesmo o que não tem explicação.

Mudo de assunto. Em um dos últimos jogos do Barcelona, o goleiro passou a bola para Arthur, perto da área, pressionado por três adversários. Ele dominou e, imediatamente, de costas para os marcadores, jogou a bola por cima dos três, para o companheiro recebê-la livre e iniciar o contra-ataque.
O público, emocionado, aplaudiu de pé.

A torcida do Barcelona, acostumada com tantos craques no meio-campo, sabe da enorme importância do meio-campista, organizador, construtor. No Brasil, durante décadas, ele foi abandonado.

Os jovens torcedores não estão habituados com esse tipo de jogador. Só querem saber do meia ofensivo, do camisa 10, que joga mais perto da área. Há 20 anos, faço essa crítica. Isso começou a mudar recentemente. O Brasil ainda não tem um craque meio-campista, do nível de Rakitic, Kross, Modric, Pogba, mas Arthur pode chegar lá. Ainda não chegou.

O futebol precisa do meio-campista, do meia ofensivo, dos meias e atacantes rápidos, habilidosos e dribladores, que atuam pelo centro ou pelos lados, e dos volantes que protegem os defensores e que iniciam as jogadas ofensivas com um bom passe.

São quatro jogadores com características diferentes. Não é frequente vê-los no mesmo time.

Dos volantes que atuam no Brasil, Maicon e Felipe Melo são os melhores, desde que o jogador do Palmeiras não dê pontapés, não tente intimidar os adversários, não queira ser a atração, o protagonista e o chefe do jogo.

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