O Cruzeiro, hexacampeão da Copa do Brasil, merecidamente, é um exemplo de que tão ou mais importante que o tipo de estratégia usada pelo treinador é a eficiência na execução do que foi planejado. Não basta ter boas ideias. É preciso saber fazer.
Pode-se e deve-se questionar a maneira de jogar do Cruzeiro, pois há vários modos de vencer, às vezes, de maneira mais agradável. Mas é inquestionável a organização da equipe, especialmente em jogos mata-mata.
Uma antiga máxima do futebol é a de que os jogadores devem ser escalados nas posições e funções, de acordo com suas características.
Mano Menezes foi além. Ao ver que o substituto imediato de Egídio era fraco e que, sem Arrascaeta, o time não teria um bom reserva para os três meias que correm muito e se cansam, improvisou, acertadamente, Romero na lateral esquerda e trouxe Arrascaeta do Japão, após viajar por 24 horas, para colocá-lo no momento certo.
Eu, que não me iludo nem me entusiasmo com os exagerados elogios aos técnicos nas vitórias e com as duras críticas nas derrotas, como se as atuações e os resultados dependessem sempre de suas condutas, reconheço que a experiência, a qualidade e o longo tempo de trabalho de Mano Menezes foram importantíssimos para a conquista do título.
Dedé é o melhor zagueiro que atua no Brasil. Forma com Léo, também muito bom, a mais eficiente zaga do país.
Dedé tem a técnica e a força física dos grandes zagueiros. Falta a ele melhorar o passe e diminuir o número de chutões.
Nas grandes equipes e seleções do mundo, os técnicos organizam os times baseados no talento e nas características dos craques.
A França, campeã do mundo, priorizou a marcação e contra-ataque, porque tinha um jovem extremamente veloz e habilidoso, Mbappé.
O Barcelona encantou o mundo, na época de Guardiola, pela troca de passes no meio-campo, porque tinha Xavi e Iniesta. O Grêmio, tão elogiado pelo comando do jogo, faz isso porque tem Maicon, Luan e, principalmente, quando tinha Arthur.
Já o Cruzeiro é diferente. O time foi formado e preparado de acordo com a marca de seu técnico, que planeja e escolhe os jogadores para atuarem da maneira que acha a mais adequada para vencer.
Se Arthur evoluir, vai se tornar mais que um titular da seleção brasileira. Vai mudar a maneira de jogar da equipe nacional.
A seleção muito antes de Tite, se caracteriza e se destaca pelos dribles e pela velocidade da intermediária para o gol graças às características de seus excepcionais meias e atacantes.
Com Arthur, além de manter as virtudes atuais, o time vai ter mais a posse de bola, cadenciar mais o jogo, trocar mais passes e esperar o momento certo para chegar ao gol. Será mais completo.
A evolução do futebol mundial, que já acontece com os grandes times, é unir, em um mesmo jogo, estilos diferentes, como marcar por pressão e mais recuado, atacar e defender com muitos jogadores, ser ativo e reativo, trocar muitos passes e avançar com velocidade.
O Santos de Pelé, no ritmo da época, cadenciava o jogo, ficava com a bola e, de repente, acelerava, com tabelas, triangulações e dribles, em direção ao gol. As coisas vão e voltam, com intensidades diferentes.
A alternância de estilos no futebol segue os humores, a vida emocional e biológica dos seres humanos. Somos inspiração e expiração, sístole e diástole (expansão e retração), ousadia e prudência, razão e paixão, sono e vigília.
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