Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Tostão

Palmeiras de Felipão vence Brasileiro que foi, na média, novamente fraco

Todos nós que trabalhamos no futebol precisamos evoluir, nos reinventar

Palmeiras e Flamengo, os dois clubes que mais investiram, são o campeão e o vice do Brasileiro. É a força da grana, que contrata os melhores jogadores, o que não significa que isso baste. É necessário também competência.

O Palmeiras talvez seja o único clube do mundo que possui dois times do mesmo nível, desde que Dudu jogue pelos dois. O elenco, em primeiro lugar, e o bom trabalho de Felipão, foram importantes para conquistar o título, embora não tenham sido suficientes para ganhar a Copa do Brasil e, principalmente, a Libertadores, a competição mais desejada. Faltaram mais qualidade individual e uma estratégia mais ousada e criativa de jogo.

Corretas e sensatas as palavras de Felipão, após o título: “Não sou ultrapassado, não sou melhor, não sou pior, sou um bom treinador e tenho métodos iguais aos dos outros”.

Felipão vibra durante partida do Palmeiras
Felipão vibra durante partida do Palmeiras - Paulo Whitaker-03.out.2018/REUTERS

Uma das virtudes mais elogiadas de Felipão é ser um paizão, saber formar um grupo, uma família, fazer com que os jogadores, titulares e reservas, vibrem e tenham disciplina tática. Talvez, isso funcione bem no Brasil, onde os atletas gostam de ser protegidos e conduzidos por um grande e afetivo chefe. Os europeus e, provavelmente, os brasileiros que atuam na seleção e nas grandes equipes da Europa são mais independentes e não querem ser guiados por rígidas regras nem por um chefão.

Seria uma das razões dos fracassos de Felipão no Chelsea e na Copa de 2014? Em Portugal, na época em que Felipão foi muito bem, havia um clima de pessimismo, de pouca confiança na seleção, ambiente ideal para um técnico com esse perfil. Na Copa de 2002, o comportamento dos jogadores era diferente do dos atuais. O mundo e o futebol mudaram. Os jovens de hoje são outros, mais críticos.

Tenho muitas dúvidas sobre tudo isso. São opiniões, racionalizações, que deveriam ser mais estudadas e discutidas por especialistas do comportamento humano.

No domingo (25), escrevi que Dudu merecia ser o melhor do Brasileiro, já que, como regra, o escolhido é o do time campeão. Para ficar mais claro, não disse que essa é uma obrigação, e sim que a equipe vencedora quase sempre é a melhor, a que possui mais conjunto, o que facilita para o jogador brilhar. Se o Grêmio fosse campeão, Luan e Everton seriam os favoritos, assim como, no Cruzeiro, com Dedé e Arrascaeta, e no Flamengo, com Paquetá.

A moda agora é dizer que faltou um Felipão ao Flamengo. Outra moda é falar que, se Dorival Júnior tivesse entrado antes, o resultado seria diferente. São comentários prontos, que dominam o futebol. O elenco do Flamengo é inferior ao do Palmeiras, e Dorival Júnior nunca foi um treinador especial.

Se Cruzeiro e Grêmio não tivessem usado todos os reservas em muitos jogos, seriam também fortes candidatos ao título. 

Neste ano, o Brasileiro foi, na média, novamente fraco. O futebol continua estagnado, como o Brasil, ambos vítimas da ineficiência e da promiscuidade que, há tempos, assolam o país. Todos nós que trabalhamos no futebol precisamos evoluir, nos reinventar. A primeira medida, essencial, seria acabar com as simulações, as pressões e as formações de grupinhos em volta dos árbitros, para reclamar de decisões.

Os técnicos brasileiros são os principais responsáveis por essa vergonhosa postura, pois não orientam, não criticam e, às vezes, até incentivam os atletas raivosos. Isso é ainda pior que jogo ruim.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.