Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Tostão

O desafio de Tite é formar um time tão eficiente na defesa quanto no ataque

Brasil possui o melhor trio ofensivo pela esquerda e também é frágil defensivamente pelo mesmo lado

São Paulo

Em outra coluna, citei os livros que li, desde a adolescência e que continuam presentes em meu imaginário.

Um leitor me perguntou de quais livros de futebol mais gostei. São muitos, como "Veneno Remédio", de José Miguel Wisnik, "O Drible", de Sérgio Rodrigues, uma ficção que começa com o inesquecível drible de Pelé, na Copa de 1970, no goleiro Mazurkiewicz, do Uruguai, o mais bonito quase gol da história, e "À Sombra das Chuteiras Imortais", crônicas de Nelson Rodrigues. São livros que eu gostaria de ter escrito.

Poucas vezes ou nunca, tinha visto um Mundial de Clubes tão fácil. O Real Madrid, sem grande brilho, venceu com tranquilidade as duas partidas.

Espero que o técnico Solari, do Real Madrid, ajude Vinícius Júnior a evoluir, sem o oba-oba da maioria da crônica esportiva brasileira. Tratam o garoto como se ele, com certeza, se tornará um fenômeno. Vinícius é rápido, habilidoso, imprevisível, simpático, mas, se quiser ser um craque, terá de melhorar muito a técnica (passes e finalizações) e, principalmente, ter mais lucidez nas escolhas durante as partidas.

No quarto gol do Real sobre o Al Ain, Vinícius, livre, diante do goleiro, finalizou, mais uma vez, mal, para fora. Mas a bola bateu no zagueiro e entrou. O árbitro, acertadamente, deu gol contra. No Brasil, insistem que o gol foi de Vinícius.

Nas últimas semanas, vi muitas longas entrevistas de Tite, em variadas emissoras de TV. Tite fala bem, é expressivo, sem nunca faltar o "titês" e o verbo "oportunizar".

Tite continua contraditório sobre Coutinho. Lamenta sempre que o meio-campo, na Copa, se desestruturou com a ausência de Renato Augusto e, ao mesmo tempo, enaltece, valoriza, os dados estatísticos de Coutinho, no Mundial, na função de Renato Augusto.

Coutinho comemora seu gol marcado no empate da seleção brasileira diante da Suíça - Marko Djurica/Reuters

Klopp, técnico do Liverpool, e Valverde, do Barcelona, tiveram também dúvidas sobre onde escalar Coutinho e decidiram colocá-lo na linha de ataque, pela esquerda. Klopp dizia que faltava a Coutinho estrutura física para ser um meio-campista, para marcar, organizar e chegar à frente para finalizar. É também o que penso e o que vi no Mundial.

Coutinho gosta de jogar no ataque, pela esquerda, onde atua Neymar. No PSG, Neymar tem jogado como um meia de ligação, entre os dois volantes e o centroavante Cavani. É uma opção para a seleção atual. O time jogaria com dois volantes (Casemiro e Arthur), dois jogadores abertos (Willian e Coutinho) e Neymar pelo centro, próximo ao centroavante. Na Copa, em alguns momentos, Tite fez isso, com Paulinho no lugar de Arthur.

Alguns comentaristas insistem que Gabriel Jesus jogou mal na Copa e que não fez gols por questões táticas, pois tinha que voltar para marcar o lateral. Isso ocorreu em pouquíssimos momentos de um único jogo. Tite tem razão em dizer que Gabriel Jesus atuou no Mundial na mesma posição e função em que jogou as eliminatórias. Ele atuou mal na Copa por causa de suas limitações técnicas. Terá de melhorar.

Os treinadores de todas as seleções sabem que o Brasil possui o melhor trio ofensivo do mundo pela esquerda, com Neymar, Philippe Coutinho e Marcelo, e que também o time é frágil defensivamente pelo mesmo lado. Seria possível ser muito eficiente na defesa e no ataque? Penso que sim. Se Tite não resolver esse dilema, o time estará sempre muito perto da glória e do fracasso. "Decifra-me ou devoro-te".

Tite (dir.) e Gabriel Jesus durante entrevista antes do jogo em Liverpool, realizado em junho - Oli Scarff/AFP

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