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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Estilo de Jorge Sampaoli não é novo, mas é inovador

Ele faz parte da pequena porcentagem de técnicos que gostam de jogar no campo do adversário

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Jorge Sampaoli e Jorge Desio durante jogo do Santos pelo Campeonato Paulista
Jorge Sampaoli e Jorge Desio durante jogo do Santos pelo Campeonato Paulista - Santos FC

Coutinho era um craque artilheiro, dos pequenos espaços, das tabelinhas curtas na entrada da área. Foi o melhor parceiro de Pelé. Os gols de Coutinho eram toques sutis, leves. A bola, silenciosamente, não estufava, acariciava as redes.

Antes da partida entre Corinthians e Santos, Carille, incomodado com tantos elogios a Sampaoli, disse que o que o técnico fazia não era novo, que cinco por cento do mundo usava a mesma estratégia do treinador do Santos, como se dissesse que, se ela fosse tão boa, seria seguida por muitos técnicos.

Deve ser menos que cinco por cento, pois apenas Bielsa, guru de Sampaoli, que, quase sempre, está sem clube, joga da mesma maneira. Guardiola e outros treinadores, como Fernando Diniz, têm conceitos parecidos aos do técnico do Santos, com a marcação por pressão e a posse de bola, mas muitos outros diferentes.

Gostar de um treinador não significa também seguir seu modelo. Guardiola é superelogiado pelos técnicos de todo o mundo, mas nenhum time joga como o Manchester City.

O estilo de Sampaoli não tem nada de novo, porque ele joga assim há muito tempo. Porém, é inovador.
Carille, preocupado com as críticas que receberia se o Santos ganhasse e fosse nitidamente superior, estudou bem o adversário, marcou a reposição de bola do goleiro e bloqueou as triangulações pelos lados, especialmente do direito. Carille foi brilhante. Mostrou que pode ser melhor do que é.

No mundo, resumidamente, há dois tipos de treinadores. Um, formado por pouquíssimos, como Guardiola, Sampaoli, Fernando Diniz, Bielsa e alguns outros, que gostam de jogar a maior parte da partida no campo do adversário, com o domínio da bola e do jogo. Outro, a maioria absoluta, atua com mais segurança e prefere recuar, fechar os espaços, para contra-atacar.

Há uma tendência positiva, cada vez mais frequente nas grandes equipes, de unir os dois conceitos, em um mesmo jogo, de acordo com o momento. Os jogadores não precisam escutar os gritos dos técnicos, sobre o instante de avançar ou de recuar.

Independentemente da maneira de jogar, há várias rotinas dos grandes times europeus, que continuam ausentes ou raramente presentes nas equipes brasileiras, como ter goleiros que sabem jogar bem fora do gol e com os pés, como diminuir os espaços entre os setores e a distância entre o jogador mais recuado e o mais adiantado, como priorizar as trocas de passe, as triangulações e os cruzamentos da linha de fundo, em vez dos chutões, das jogadas aéreas e dos cruzamentos da intermediária, como marcar por pressão e na saída de bola do goleiro, além de vários outros detalhes.

Não se deve confundir a pressão em quem está com a bola, em todo o campo, com a marcação da reposição de bola do goleiro, para forçá-lo a dar um chutão.

Mesmo se Santos e Fluminense não ganharem títulos, o que é provável, pela inferioridade de seus elencos, Fernando Diniz e, principalmente, Sampaoli, por ter mais prestígio, podem provocar um enorme ruído nos outros treinadores. Estes, em vez de ficarem irritados com as críticas de alguns comentaristas, deveriam refletir sobre seus trabalhos. É uma vergonha que no Brasil, com tanta tradição, se jogue, com tanta frequência, um futebol feio e ultrapassado.

Quem sabe Corinthians e Santos seja a referência de uma nova transformação?

Quem sabe veremos pela Libertadores os times brasileiros com novas ideias e mais eficiência.

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