Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Sou privilegiado por ter visto craques dos anos 1960, 1970 e os atuais

De lá para cá, o jogo ficou mais feio, mas não desapareceram os grandes times

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Na semana passada, por causa da morte de Coutinho, houve várias reportagens, enquetes e comparações entre os melhores times e jogadores da história. Muitos chamam os anos 1960 e 1970 de a era romântica do futebol. Prefiro dizer que é a da imaginação e do encantamento. 

Mesmo no momento atual, a imaginação é tão importante quanto a informação, no sentido de que, mesmo nas pretensas verdades, há detalhes que podem ser vistos e pensados de uma maneira diferente. O pensamento e a ação não podem ser apenas operatórios, a soma de números.

É impressionante o número de grandes craques e de grandes equipes, em todo o mundo, no período entre 1954 e 1974. Em 1954, a Hungria de Puskas encantou o mundo para sempre, embora a campeã tenha sido a Alemanha. 

De 1958 a 1962, reinou o Brasil, com Pelé, Garrincha, Nilton Santos e Didi. Em 1966, foi a vez da Inglaterra, campeã e criadora do 4-4-2. Até hoje, quase todas as equipes do mundo se defendem com duas linhas de quatro, como os ingleses daquela época.

Em 1970, o Brasil, com Pelé, Gérson, Rivellino, Jairzinho, Carlos Alberto e outros, consolidou o prestígio de ser o país do futebol

Em 1974, foi a Holanda de Cruyff. Pela primeira vez, um time marcou em todo o campo. Hoje, é supermoderno.

Brasil, Inglaterra e Holanda revolucionaram o futebol, o que também ocorreu mais à frente, com o Barcelona, dirigido por Guardiola.

Entre 1954 e 1974, houve várias equipes excepcionais, que estão entre as melhores da história, como o Santos de Pelé, o Botafogo de Garrincha, o Real Madrid de Puskas e Di Stéfano, o Ajax de Cruyff, o Benfica de Eusébio, e o Estrela Vermelha, da antiga Iugoslávia.

Os anos dourados de 1960 e 1970 não foram somente no futebol. Apesar da nefasta ditadura, foi uma época de magistrais artistas, poetas e escritores, no Brasil e em todo o mundo. Aconteceram também a revolução cubana, o aparecimento da Vespa italiana e do Fusca brasileiro, a revolução cultural, a mudança de costumes, o movimento hippie e tantos outros fatos históricos que mudaram o mundo.

A partir dos anos 1970, houve, progressivamente, uma grande evolução da ciência esportiva, que nunca vai parar. Com isso, criou-se um conflito entre a imaginação, a improvisação e o talento individual e o jogo coletivo, tático, físico e programado. 

O escritor uruguaio Eduardo Galeano escreveu que “a história do futebol é uma triste viagem do prazer ao dever”. O jogo ficou mais feio e improdutivo. Mesmo assim, não desapareceram grandes times e craques.

O ano de 2002 foi uma data marcante, pelas declarações dos alemães, após o Mundial, de que a seleção vice-campeã era a pior da Alemanha de todos os tempos. Os europeus, assustados, chacoalharam o futebol e promoveram uma grande transformação, dentro e fora de campo. Isso melhorou muito a qualidade do jogo, menos no Brasil, que não se importou nem com os 7 a 1. Recentemente, isso começou a mudar, lentamente.

Existe hoje na Europa um grandíssimo número de cracaços, próximos ou iguais aos dos anos 1960 e 1970.

Sou duplamente privilegiado por ver craques daquela época e de agora, como Cristiano Ronaldo e Messi, dois dos maiores da história.

Como sou um homem racional e sonhador, convivo muito bem com as duas visões, a pragmática e a da imaginação. As duas são essenciais. 

Porém, às vezes, elas não se entendem. Uma quer saber mais e ser mais importante do que a outra.

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