No gol do fraco River Plate do Uruguai, que eliminou o Santos da Copa Sul-Americana, os dois zagueiros estavam no meio-campo. A bola foi lançada nas costas dos defensores, o goleiro Vanderlei saiu do gol e foi driblado. Lance parecido ocorreu na recente vitória do Santos sobre o São Paulo, quando o goleiro Tiago Volpi saiu atrasado.
No meio da semana, assisti à quase todos os jogos das principais equipes europeias, e nenhuma atuou com os zagueiros na linha do meio-campo, como o Santos, nem muito recuados, colados à grande área, como é habitual no futebol brasileiro. Os zagueiros se posicionavam na intermediária, mais ou menos na mesma distância das linhas da grande área e do centro do campo.
Com isso, havia menos espaços nas costas dos defensores e entre eles e os armadores.
Para evitar as bolas nas costas, é preciso bom posicionamento, zagueiros rápidos e goleiros treinados para fazer a cobertura, além da marcação por pressão, para não deixar o adversário ficar com a bola e lançá-la no espaço vazio.
Na Copa de 2014, o goleiro Neuer, da Alemanha, deu um show nas saídas do gol. Chegava sempre antes do atacante.
Ederson, da seleção e do Manchester City, talvez seja hoje o goleiro que melhor joga fora do gol, pela chegada rápida na cobertura e por ter um ótimo passe. Desarma e inicia o contra-ataque.
São os avanços do futebol, que os técnicos brasileiros ignoram e/ou têm medo de implantar. Preferem a mesmice.
Por melhor que a defesa seja preparada para jogar com os zagueiros adiantados, há sempre mais riscos que o habitual.
Os técnicos Alberto Valentim, do Vasco, quando dirigiu o Palmeiras, Cristóvão Borges, em todas as equipes que comandou, e Levir Culpi, no Brasileiro do ano passado, organizaram os times com os zagueiros adiantados, quase na linha do meio-campo, e se deram mal.
Não basta ter bons conceitos. É preciso saber fazer.
O Athletico, quando era dirigido por Fernando Diniz, sofria muitos gols, porque tentava trocar passes, perdia a bola e deixava grandes espaços na defesa. Com o Fluminense, isso não tem ocorrido. É uma evolução do técnico. A dificuldade maior do Fluminense, assim como a do Santos, é a pouca qualidade individual.
Cada vez mais, os grandes times europeus alternam, em um mesmo jogo, dependendo do momento, a marcação mais adiantada por pressão com a mais recuada, para fechar os espaços e contra-atacar.
O Atlético de Madri, dirigido por Simeone, faz isso muito bem. No Brasil, o Grêmio tem postura parecida, além de proteger a defesa com a posse de bola e a troca correta de passes.
Após resultados negativos de Fluminense e Santos, surgem duras críticas a Fernando Diniz e a Sampaoli, tratados como professores pardais, que gostam do jogo bonito, mas improdutivo, desvinculados da realidade. Os adeptos da mesmice ficam eufóricos. Os outros treinadores se sentem vitoriosos e mais seguros do que fazem. O derrotado é o futebol brasileiro, que não sai do lugar.
A intolerância e a radicalidade na vida brasileira estão também presentes no futebol. É necessário criticar a incapacidade de inovar e as condutas ultrapassadas da maioria dos treinadores brasileiros, mas sem se iludir que tudo o que é novo, diferente, seja bom. A racionalidade, a independência e a isenção, para observar e opinar, são cada vez mais raras.
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