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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Brasil produz meias e atacantes habilidosos, mas de pouca técnica e lucidez

Se o Flamengo for eliminado, dirão, para sempre, que foi por causa de Jorge Jesus

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Desde os anos 1960, constato que há dezenas de histórias, conceitos e fatos inverídicos ou questionáveis, que são repetidos, como se fossem eternas verdades.

Na Copa de 1970, Zagallo, ao assumir a seleção, disse que havia excessos de armadores e nenhum centroavante, já que eu era um meia-atacante no Cruzeiro, e o centroavante Toninho Guerreiro tinha sido dispensado por contusão. 

Zagallo convocou o Roberto e Dario, que era artilheiro do campeonato nacional, e dispensou dois craques do meio-campo, Dirceu Lopes e Zé Carlos. 

Até hoje, insistem que Dario foi convocado por pedido ou ordem do ditador Médici.

Na Copa de 1994, Raí, excepcional meia-atacante, artilheiro, foi escalado por Parreira de meia-direita, com a função de marcar o lateral. Não podia dar certo. 

Raí é alto, pesado, forte e não conseguia marcar no próprio campo e chegar à área adversária. 
Por isso, atuou mal e foi barrado, diferentemente do que afirmam até hoje, que ele passava por maus momentos.

A seleção de 1994 foi o primeiro time ou seleção do Brasil que jogou no 4-4-2. Hoje, a maioria das equipes, independentemente do desenho tático, marca dessa maneira. O 4-4-2 não é sempre defensivo. Se as duas linhas de quatro marcam mais à frente, os quatro do meio campo estarão perto dos dois atacantes e do gol. 

Na Copa de 2006, Ronaldo e Adriano estavam muito acima do peso, e Parreira escalou Ronaldinho de um lado e Kaká de outro, para marcar os laterais adversários, como na Copa de 1994. 

Não podia dar certo. Os dois craques brilhavam em seus clubes jogando perto da área adversária. Mesmo assim, a culpa principal do fracasso foi para a concentração de Weggis, na Suíça, por causa do público presente aos treinos.

Na Copa de 2018, Gabriel Jesus, durante uns 20 minutos de um único jogo, atuou pela esquerda, marcando o lateral, para deixar Neymar livre, no ataque. 

Continuam dizendo que o Gabriel jogou mal e não fez gol porque foi sacrificado, por atuar fora de sua posição.

Gabriel Jesus comemora gol contra o Peru, na Copa América - AFP

Sempre que Pato joga mal ou muito abaixo da expectativa criada sobre ele, falam que é disperso, apático, uma celebridade, desinteressado do jogo. Mesmo que tudo isso seja verdade e que tenha muita habilidade, Pato possui pouca técnica, erra demais e, com frequência, toma as decisões erradas. Ele não atende às expectativas porque tem pouco talento. De vez em quando, executa um belíssimo lance e ilude. 

Ele parece craque, mas não é. Quem é, é.

O Brasil produz, há muito tempo, um grande número de meias e atacantes habilidosos, rápidos, mas com pouca técnica, pouca lucidez e pouco amadurecimento emocional. A mente é que controla o corpo.

Na derrota do Flamengo para o Emelec, Jorge Jesus foi escolhido o único culpado, sem direito à defesa, por ter escalado Rafinha como meia-direita. Mesmo considerando que Rafinha é habilidoso, rápido e que já jogou nessa posição no Bayern e que o Flamengo tinha vários jogadores sem condições de atuar, havia outras opções, que poderiam ser melhores. 

Houve também inúmeros outros motivos para a derrota. Se o Flamengo for eliminado, dirão, para sempre, que foi por causa de Jorge Jesus.

Emelec comemora gol contra o Flamengo em partida da Libertadores - AFP

O conformismo assola o futebol brasileiro. Alguém diz algo, outro repete, geralmente do mesmo grupo, e a falsa verdade se alastra, muitas vezes, para sempre. 

Muitas pessoas param de refletir, questionar, pensar e evoluir e perdem a gana e o prazer de fazer diferente e cada vez melhor.

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