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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Se o Brasil ganhar a Copa América, não significa que está tudo ótimo

Se perder, também não quer dizer que a geração é ruim e que Tite deveria ser dispensado

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Nos programas esportivos e nos botequins da vida, tradição de Belo Horizonte, aumentaram as discussões sobre desempenho e resultado. Isso é muito bom. Não basta torcer, é preciso gostar e compreender o futebol. Assim, fica mais prazeroso.

Algumas vezes, desempenho e resultado caminham juntos. Em outras, se distanciam. Isso ocorre com times e jogadores. Às vezes, é difícil separar as coisas.

Muitos jogadores se destacam pela qualidade e regularidade. Mas raramente executam lances excepcionais, decisivos. Outros, medianos, de vez em quando brilham intensamente. Quando isso ocorre, são endeusados.

A imprensa do entretenimento, do espetáculo, precisa de boas manchetes e de heróis a cada partida, ainda mais se for o improvável.

Em apenas cinco jogos, Gabriel Jesus, Everton, Richarlison e David Neres foram elogiados e criticados. Passaram de titulares a reservas ou o contrário. Isso mostra que todos são bons, do mesmo nível, mas que nenhum deles é um fora de série, titular incontestável.

Gabriel Jesus, contra a Argentina, brilhou, entrando em diagonal, da ponta para o centro, como Tite queria, para se tornar um segundo atacante e/ou ocupar o espaço deixado por Firmino, como no primeiro gol.

Antes de começar a competição, a posição de Gabriel Jesus era de Richarlison. Já contra Venezuela e Paraguai, duas seleções que jogaram recuadas, Jesus teve de atuar aberto, sem espaço para entrar pelo meio. Nessa situação, é melhor ter um ponta.

Uma das razões do domínio da Argentina em boa parte do jogo foi ter três no meio-campo, contra dois, já que Coutinho ficava mais à frente. Como Tite priorizou a marcação sobre Messi, Arthur e Casemiro ficaram muito atrás, para bloquear os espaços. Arthur ficou sem a bola. Faltou um terceiro no meio.
Além disso, a Argentina pressionou muito a saída de bola com os dois volantes.

Na coluna anterior, para amenizar as críticas a Arthur, por não entrar na área adversária, escrevi que Xavi, um dos grandes da história e da mesma posição que Arthur, dava pouquíssimos passes decisivos e fazia poucos gols.

Um leitor da Folha me contestou, com razão, ao mostrar com números que Xavi, na média, dava muitos passes para gol e fazia muito mais gols que Arthur. Entretanto, o fato não contradiz meu conceito de que Arthur é importantíssimo para a seleção, por ter o domínio da bola e um passe preciso. Se avançasse mais e fizesse mais do que isso, seria muito melhor, um Xavi.

Provavelmente, o Peru vai priorizar a defesa. Mas dizer que, nos 5 a 0, o Brasil goleou e fez dois gols com 20 minutos por causa da postura ofensiva dos peruanos não é a realidade. No início do jogo, o Peru foi até melhor, e os dois gols saíram de lances isolados, em um escanteio e em uma falha horrorosa do goleiro. Depois disso, ficou fácil. Contra o Chile, o Peru jogou muito bem e marcou mais à frente.

Não ficarei tão surpreso se o técnico Ricardo Gareca, por convicção ou por vaidade, para mostrar que pode ganhar do Brasil sem jogar na defesa, arrisque novamente. Certamente, não vai escalar o distraído Cueva para marcar Daniel Alves.

Se o Brasil ganhar, o que é bastante provável, não significará que está tudo ótimo, que a geração atual é excelente e que a equipe joga melhor sem Neymar, o que é uma grande bobagem.

Se perder, o que será uma grandíssima surpresa, não significará que está tudo péssimo, que a geração é ruim e que Tite deveria ser dispensado.

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