Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Não deixar o adversário jogar se tornou obsessão

A estratégia de times brasileiros e alguns da Europa é empobrecer o futebol

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Se o Cruzeiro for eliminado da Copa do Brasil, nas semifinais contra o Inter, entrará em crise, dentro e fora de campo. Provavelmente, haverá mudanças de elenco, de técnico e de mais dirigentes, que já deveriam ter saído.

A equipe está muito burocrática, previsível. A esperança é o sistema defensivo não levar gols, como nos dois jogos contra o River Plate, pela Libertadores.

A estratégia do Cruzeiro e de vários outros times brasileiros e também de alguns da Europa, de amarrar, empobrecer o jogo, de não deixar o adversário jogar e de ganhar nos pequenos detalhes, no limite, deu certo em muitos momentos, tornou-se uma obsessão, um desejo, um prazer maquiavélico, masoquista, como se fosse ainda melhor vencer sem brilhar. Isso está se esgotando. Aos poucos, aumenta, em todo o mundo, a busca por vencer e por jogar bem.

Orejuela, do Cruzeiro, disputa a bola com Milton Casco, do River Plate, em partida da Libertadores
Orejuela, do Cruzeiro, disputa a bola com Milton Casco, do River Plate, em partida da Libertadores - Ueslei Marcelino-30.jul.19/Reuters

Individualmente, falta ao Cruzeiro, principalmente, um meio-campista de talento, que jogue de uma intermediária à outra, que marque, construa e avance. Os dois volantes, Henrique e Ariel Cabral (ou Romero, que voltou para a Argentina), desarmam e tocam para o lado. Parecem zagueiros no meio-campo. Falta um Edenílson, do Inter, um Bruno Guimarães, do Atlhetico.

Algumas equipes brasileiras, como Santos, Inter e Fluminense, seguem o modelo das principais equipes europeias, de jogar apenas com um volante centralizado e com um meio-campista de cada lado, como Edenílson, no Inter, 

Sanchez, no Santos, e Ganso, no Fluminense. No Liverpool, os três do meio-campo defendem e atacam. O mesmo ocorre no Santos. Pituca, ótimo volante, o mais recuado, aparece também na frente.

No Grêmio, não existe primeiro e segundo volante. Os dois, Maicon e Matheus Henrique, marcam como volantes e avançam como meias.

Ganso, quando jogava no Santos e no São Paulo, era um meia ofensivo. Quando não brilhava, era tratado como lento, preguiçoso, e como um meia que não entrava na área. No Fluminense, é um meio-campista, de uma intermediária à outra.

Apesar de Ganso estar jogando bem, raramente, é elogiado. No Brasil, ainda predomina o conceito arcaico do meio-campo dividido entre os volantes que marcam e que jogam do meio para trás e os meias que atacam e que jogam do meio para frente. O meio-campista não existe. 

Como Ganso não é um clássico volante nem um clássico meia, passa despercebido. Outro dia, um jornalista esportivo disse que Jair, do Atlético, jogava no meio-campo e que, agora, passou a ser a volante, como se volante não fosse jogador de meio-campo.

Além disso, como todos nós nos decepcionamos com Ganso, que não se tornou o craque mundial que imaginávamos, temos receio de elogiá-lo, para não ficarmos novamente frustrados. Ele não é o craque que pensávamos, mas não é um jogador qualquer.

Repito, pela milésima vez, que, se Ganso tivesse sido formado na Europa, especialmente no Barcelona, se tornaria um excepcional meio-campista. Quem sabe um Xavi, um Iniesta, um De Bruyne, um Pogba? 

Em compensação, se Pelé tivesse nascido na Europa, jogaria em um time que priorizasse o chutão, para ele correr atrás da bola, como era habitual. Agora, não é mais. Isso ainda prevalece em algumas equipes brasileiras. Pelé não teria também, na Europa, os excepcionais companheiros que teve no Santos nem a brisa gostosa do mar da Baixada.

Do encontro do acaso com a oportunidade, nascem o desejo e o talento.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado inicialmente, Tostão quis se referir ao meio-campista do Internacional Edenílson, e não Edmílson, conforme escreveu em sua coluna. Texto já foi corrigido.

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