No último sábado (2), vi, no Centro Cultural Banco do Brasil, em Belo Horizonte, uma retrospectiva do pintor suíço Paul Klee, com o título "Equilíbrio Instável".
Nas últimas décadas, a palavra que mais escutei dos treinadores brasileiros foi equilíbrio, entre defender e atacar. A segunda foi recomposição. Os técnicos sonham com o equilíbrio e a recomposição perfeitos, a chave mágica, segundo eles, para o sucesso.
O equilíbrio é também o grande desejo de muitos profissionais e pessoas sérias, pragmáticas e utilitárias. É uma ilusão. O ser humano, mesmo quando não percebe, vive em conflito permanente, entre a ambição e a razão, entre o equilíbrio e o desequilíbrio, entre o sonho e a realidade. Vive em um instável equilíbrio ou em um estável desequilíbrio.
Alguns poucos treinadores, como Guardiola, Klopp, Jorge Jesus e Sampaoli, flertam com o desequilíbrio, com a busca por algo diferente, surpreendente. Querem vencer e brilhar, encantar. Mais que isso, acreditam que a maior eficiência está na ousadia, na pressão em quem está com a bola, para recuperá-la perto do outro gol, mesmo correndo mais riscos. Eles se preparam para isso.
O explosivo Klopp, técnico do Liverpool, disse que, hoje, mais importante que o camisa 10, o clássico meia de ligação, é a recuperação da bola perto do outro gol.
Já a maioria dos treinadores brasileiros e de todo o mundo, e não apenas Carille, o bola murcha da vez, depois de ser excessivamente badalado, aposta na prudência, no equilíbrio sem aventuras, priorizando a marcação mais recuada e o contra-ataque. Querem defender e atacar bem, mas, com frequência, não conseguem, por falta de qualidade e pela impossibilidade de chegar à frente com muitos jogadores, pois recuperam a bola muito longe do outro gol.
Existem times e treinadores bons e ruins nos dois estilos. Eles ganham e perdem. Dependem muito do talento dos atletas. Ancelotti e outros técnicos conservadores são brilhantes e vitoriosos. Mano Menezes é um bom treinador. Como disse Paulo Vinícius Coelho, não há verdades definitivas.
A França, campeã do mundo, tinha um técnico excessivamente pragmático e prudente, Didier Deschamps. O time priorizou a marcação e o contra-ataque, embora a principal razão da conquista tenha sido a de que a seleção francesa tinha mais craques que as outras.
Carille tentou fazer, sem sucesso, na segunda passagem pelo Corinthians, o mesmo que fez na primeira.
A diferença principal é a qualidade dos jogadores. Insistem, para justificar a malhação ao técnico, que o elenco é bom, melhor que o do Santos e o de outras equipes que estão à frente. Se o Corinthians tivesse um meio-campo com Sánchez e Pituca, dois atacantes pelos lados, como Soteldo e mesmo o irregular e doidinho Marinho, além de um lateral-esquerdo, como Jorge, estaria muito bem. Insistem também em dizer que Júnior Urso brilhou no Atlético. Parei!
Sampaoli e Jorge Jesus, além de serem ótimos treinadores, dão boas entrevistas, com detalhes técnicos, táticos e humanos. São também críticos à organização do futebol brasileiro. Coincidentemente, os dois são estrangeiros. São também emotivos, explosivos, o que não tem nada a ver com a nacionalidade.
Mais interessante foi o beijo dado por Jorge Jesus no rosto de Bruno Henrique, suado, na saída do gramado, em um gesto afetuoso, de agradecimento e de elogio. Jorge Jesus é mais que um treinador.
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