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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Obsessão com as estratégias dos técnicos é um fetiche

Estatísticas e tecnologia diferenciam as análises atuais e as do passado

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Há um conceito frequente, equivocado, especialmente entre os jovens apaixonados pelas pranchetas, de que, no passado, na época do nefasto AI-5, não se dava nenhuma importância à estratégia de jogo, e os craques decidiam as partidas, apesar dos treinadores.

Uma das grandes qualidades da seleção de 1970, dirigida por Zagallo, era a organização e a disciplina tática. 

Treinávamos, todos os dias, como atacar defesas fechadas e como nos posicionar defensivamente, sempre com os três do meio-campo à frente dos quatro defensores. É o que faz hoje a maioria dos técnicos, com a diferença de que agora são quatro ou cinco para proteger os quatro de trás.

Evidentemente, a grande diferença técnica era quando o time recuperava a bola, com Gérson, Rivellino e Clodoaldo.

Outro conceito atual e equivocado é o de que, no passado, os comentaristas, nos programas esportivos, não discutiam detalhes táticos. O escritor, teatrólogo e colunista Nelson Rodrigues, que diziam não entender de futebol, chamava, com ironia, os comentaristas de “entendidos”, porque queriam explicar o inexplicável, como agora. Havia vários comentaristas bastante detalhistas, catedráticos, como Ruy Porto. 

A maioria dos técnicos e jogadores da época discordava do que falavam os analistas, como hoje.

As diferenças nas análises entre o passado e o presente estão nas bem-vindas estatísticas e na tecnologia, com imagens computadorizadas e movimentos dos jogadores, embora, às vezes, os “entendidos” utilizam determinado momento de uma partida como se ele ocorresse durante todo o jogo. Procuram o que querem mostrar.

Dias atrás, motivo desta coluna, um torcedor, dos que querem torcer e aprender, me perguntou qual a diferença entre o 4-2-3-1, utilizado por quase todos os times brasileiros, e o 4-2-3-1 do Flamengo

Nem eu nem o torcedor concordamos. Repito, não sei desenhar na prancheta o desenho tático do Flamengo, por causa da intensa movimentação dos jogadores. É uma virtude do time.

No empate contra o Goiás, ficou mais evidente que o Flamengo não tem um reserva à altura no gol e na lateral direita. Outra dificuldade atual é que todos os adversários vão se transformar para vencer o badalado Flamengo. O Goiás, especialmente o baixinho, habilidoso e velocista Michael, jogou demais.

Há um exagero na valorização das estratégias dos técnicos. Jorge Jesus faz excelente trabalho, mas o time é ótimo porque possui também muitos bons jogadores. Carille cometeu erros no Corinthians, como a preocupação excessiva na marcação e a contribuição para a formação do elenco, mas a equipe está em sétimo lugar (até o início desta rodada), porque os seis primeiros, além de Athletico-PR e Cruzeiro, possuem jogadores melhores no meio-campo e no ataque.

A tecnologia é importantíssima para melhorar a qualidade do futebol. 

Porém, discordo do fetiche criado em torno das estratégias dos técnicos e de suas mágicas pranchetas.
Não deveríamos ser reféns da ignorância e do achismo nem dos nerds e das máquinas. Assim como o gol do Santos não precisava do VAR para ser invalidado — era nítido o impedimento—, o do Bahia não deveria ter sido anulado, por causa de um dedo do pé à frente de uma linha, que ninguém compreende, criada pelo árbitro de vídeo. 

Qual é a certeza absoluta de que essa linha é correta e perfeita? Querem acabar com a subjetividade e a dúvida, pilares da vida humana. Precisam descobrir uma saída.

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