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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Descrição de chapéu 50 Anos do Tri

Na prancheta, seleção de 1970 era como principais times europeus de hoje

Havia, porém, detalhes diferentes no Brasil tricampeão

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A epidemia vai passar. Temos de nos informar e ser responsáveis, sem entrar em pânico. A tragédia mostra e ensina ao ser humano sua fragilidade diante das incertezas e da finitude da vida.

Em junho, 50 anos atrás, o Brasil conquistou a Copa do Mundo pela terceira vez. Tenho um quadro em meu escritório, que ganhei de presente de um torcedor, com os seis ingressos dos jogos do Brasil no Mundial. Ele assistiu, ao vivo, no México, a todas as partidas da seleção.

Perguntam-me muito, entre tantas coisas, sobre o esquema tático da seleção de 1970. Na prancheta, era igual à maioria das atuais e grandes equipes europeias, com quatro defensores, três no meio-campo e três no ataque. Já quase todos os times brasileiros jogam com quatro defensores, dois volantes, uma linha de três meias e um centroavante. O Flamengo é uma das poucas exceções.

Jogadores do Brasil celebram a conquista do tri, no México - Acervo - 21.jun.70/AFP

Havia detalhes diferentes na seleção de 1970. Em todas as atuais equipes, que jogam com um trio no meio-campo, o volante atua centralizado. Em 1970, quem atuava pelo centro era o meia Gérson. O volante Clodoaldo ficava mais atrás, à direita de Gérson, e Rivellino, mais à esquerda e um pouco à frente. Formavam uma linha diagonal, em vez de um triângulo, como é hoje.

Como Clodoaldo ficava mais recuado, sobrava espaço, pela direita, ao adversário. Isso não era problema, porque Jairzinho, com uma excepcional condição física, voltava para marcar, além de ser o artilheiro. Com frequência, formava-se uma linha de quatro no meio-campo, com Jairzinho, Clodoaldo, Gérson e Rivellino.

Outra característica da seleção, revolucionária para a época, era, muitas vezes, voltar para marcar no próprio campo, sem deixar espaços na defesa ao adversário, como muitos times fazem hoje.

Na época, nos times brasileiros, havia enormes espaços entre a defesa, o meio-campo e o ataque. Isso persiste até hoje, em muitos times no Brasil. As atuais melhores equipes do mundo alternam a marcação mais recuada com a por pressão.

A capacidade física de Jairzinho era ponto importante do time - Acervo - 21.jun.tp/AFP

O segundo gol do Brasil sobre o Uruguai, na vitória por 3 a 1, foi exemplar para mostrar o posicionamento de Jairzinho e a postura de marcar no próprio campo. Jairzinho desarmou próximo à área brasileira, pela direita, tocou curto para Pelé, que tocou para mim. Recebi a bola antes da linha do meio-campo e dei o passe para Jairzinho, que partiu em velocidade, para recebê-la na intermediária uruguaia. Ele dominou a bola, driblou o zagueiro e fez o gol. É um clássico gol do futebol moderno e de contra-ataque.

Perguntam-me muito também se eu fui um falso 9 na Copa de 1970, já que, no Cruzeiro, eu era um meia-atacante. Joguei no Mundial como um centroavante, pois era o mais avançado e atuava mais pelo centro. Um time que tinha Jairzinho e Pelé, dois excepcionais artilheiros, precisava, na frente, de um centroavante armador, para facilitar para os dois, e não de um típico centroavante, como Zagallo queria, até mudar de ideia.

Perto do Mundial, Zagallo, após experimentar um centroavante (Dario ou Roberto), perguntou se daria para eu atuar de centroavante, mas sem recuar muito, como fiz nas eliminatórias, com João Saldanha, e como jogava no Cruzeiro. Respondi: "Não há problema. Vou ser um centroavante armador, como Evaldo, do Cruzeiro".

Os 50 anos passaram rapidamente. Parece que foi ontem. Como diz o famoso cineasta italiano Vittorio Gassman, "deveríamos ter duas vidas, uma para ensaiar e outra para viver".

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