Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Futebol brasileiro seguiu o modelo egoísta da sociedade

Falta de uma visão mais humana e coletiva ocorre fora e dentro de campo.

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Apesar das incertezas e do futuro após o coronavírus, existe uma esperança, que é mais um desejo, de que o Brasil e o mundo se tornem melhores, menos desiguais, egoístas e mais solidários, decentes.

A falta de uma visão mais humana e coletiva ocorre também no futebol, fora e dentro de campo. Uma das razões da queda de qualidade do futebol brasileiro é a excessiva valorização do individualismo, do drible e dos meias e atacantes habilidosos, em detrimento do conjunto, da técnica e do passe, símbolo do jogo coletivo. O passe e o drible, no momento certo, são essenciais e se completam.

A adoração pelos meias habilidosos e individualistas tem a ver com a divisão que houve no meio-campo e que persiste até hoje, entre os volantes que marcam e os meias que atacam.

Com isso, diminuíram, no Brasil, os craques meio-campistas, que jogam de uma intermediária à outra, organizadores, pensadores, como Didi, Gérson, Falcão, Cerezo, Xavi, Iniesta, Kroos, De Bruyne, Pogba e outros. Há décadas que o Brasil não forma um craque mundial com essas características.

O futebol brasileiro, fora e dentro de campo, seguiu o modelo egoísta da sociedade, da radicalização (é ótimo ou péssimo), do jogo de interesses, da proteção aos amigos, do desejo de levar vantagem em tudo, o que não tem nada a ver com Gérson, que era em campo o símbolo do futebol coletivo.

Ao ver vários jogos de seleções brasileiras do passado, tive a percepção de que os times campeões foram melhores do que eu pensava, incluindo o de 1970. Fiquei mais bonzinho ou minha visão atual é diferente, mais técnica e tática, sem a emoção daqueles momentos?

Qual foi superior, a seleção de 1958 ou a de 1970? Há dúvidas. Pelé, o único que jogou nas duas, disse, certa vez, que a de 1958 foi melhor. Ele e outros devem se basear, principalmente, na qualidade individual, pois a de 1958 tinha Pelé e Garrincha, os dois maiores da história do futebol brasileiro.

Anos atrás, graças a um trabalho belíssimo de recuperação de imagens, vi, por DVD, quase na íntegra, as partidas da seleção de 1958. Tive a impressão de que, coletivamente, o que não determina quem foi a melhor, a de 1958 se parecia mais com o futebol dos anos 1940 e 1950, muito mais lento, com mais espaços entre os setores e com menos velocidade, enquanto a seleção de 1970 se parecia mais com o jogo moderno.

Qual foi melhor, a seleção de 1994 ou a de 2002? Acho a de 1994 melhor, no aspecto coletivo, e a de 2002, no individual, por ter, na frente, Ronaldinho, Ronaldo e Rivaldo.

Antes do Mundial de 2002, entrevistei Felipão, e ele estava encantado com a estratégia de jogo da Argentina, disparadamente a melhor seleção das Eliminatórias. O time jogava com três zagueiros, dois alas, um volante, um meia de ligação e três no ataque (3-3-1-3). Era inovadora e bastante ofensiva.

Na Copa, Felipão adotou a mesma formação, mas não funcionava bem coletivamente, porque Roberto Carlos e Cafu, escalados de alas, continuavam jogando de laterais. O volante Gilberto Silva ficava sozinho no meio-campo, já que o meia Juninho Paulista se juntava aos três da frente.

Na fase de mata-mata, Felipão percebeu o problema, trocou Juninho por Kléberson, que passou a atuar mais perto de Gilberto Silva. Kléberson marcava e atacava. O time melhorou.

O Brasil, que tinha ido mal nas Eliminatórias, ganhou o Mundial, enquanto a Argentina foi eliminada na primeira fase. Assim é o futebol.

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