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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Romário sempre treinou do seu jeito e só o que faria no jogo

Centroavante misturava sabedoria e malandragem para fazer seus gols

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Continuo em casa. É necessário. Trabalho, tento fazer coisas diferentes e, ao mesmo tempo, me informo sobre a pandemia. É triste saber de tantas mortes.

Se, neste momento, os governos e as grandes empresas, públicas e privadas, de todo o mundo, injetam muito dinheiro para combater a epidemia e ajudar os mais necessitados, vulneráveis, imagino que, quando tudo se normalizar, com segurança, poderia haver outro grande esforço mundial para diminuir a pobreza.
No Brasil, quase metade das pessoas não possui saneamento básico. É outra grande tragédia, que, há muito tempo, mata, regularmente e aos poucos.

Será inevitável uma recessão econômica e os valores no futebol terão de ser revistos. Dificilmente haverá futebol antes de agosto. A rica CBF deveria ajudar os pequenos clubes, para que possam sobreviver. Será necessário também reorganizar o calendário.

Pego carona em uma discussão sobre Romário, em um programa da ESPN Brasil, com todos os comentaristas em casa, por videoconferência. Segundo eles, Valdano, ex-jogador, técnico e dirigente, atualmente analista e filósofo do futebol e que foi treinador de Romário, teria dito que os técnicos atuais, provavelmente, não escalariam o atacante em seus times, por causa de sua pouca movimentação e por jogar parado, dentro da área.

Romário, em seu tempo de Valencia, comemora gol contra o Palmeiras - Acervo - 20.ago.97/AFP

Concordo com os comentários de Rômulo Mendonça. Valdano falou da última fase de Romário, a mais longa. Após ser campeão e melhor do mundo, passou a administrar a fama e a jogar parado, dentro da área, quando continuou a fazer gols. José Simão escrevia que Romário passava todo o jogo coçando o saco dentro da pequena área, esperando a bola, para empurrá-la para as redes.

Antes dessa época, até ser o melhor do mundo, Romário jogava da intermediária ao gol. Às vezes, partia do meio-campo, com dribles e troca de passes. Ele era magistral para correr, no momento certo, sem entrar em impedimento, para receber a bola nas costas dos zagueiros e antes do goleiro, ainda mais que, na época, os goleiros não jogavam fora do gol.

Um dos gols de Romário de que mais gosto foi contra a Holanda, nas quartas de final da Copa do Mundo de 1994. Revi o lance, dias atrás. Ele, em velocidade, recebeu um passe cruzado de Bebeto e percebeu que estava longe da bola. Se esticasse a perna, para tocá-la, ou entrasse de carrinho, perderia o gol. Romário deu um salto e, com as duas pernas no ar, sem apoio, tocou com a direita, no canto. Magistral.

No início de 1998, entrevistei Romário, para o programa "Um Tostão de prosa", da ESPN Brasil, em Valência, onde ele jogava. Cheguei ao treino, e ele estava fora. Romário me disse que não tinha contusão, que não tinha nada, mas não treinava porque se recusava a trocar passes com as mãos, como queria o técnico italiano Ranieri. Durante a carreira, Romário sempre treinou de seu jeito, somente o que faria no jogo, mistura de sabedoria com malandragem.

No outro dia, voltei ao centro de treinamento do Valência, e havia um treino coletivo entre titulares e reservas. Romário, na entrada na área, dominou uma bola com um pé e, com o outro, a jogou por cima do zagueiro e do goleiro, que estava adiantado. Fenomenal. Ele me disse, depois do treino, que o técnico Ranieri não havia gostado, com o argumento de que isso era gol de treino, que ele nunca faria o mesmo no jogo. Segundo Romário, ele teria respondido: "Você não me conhece".

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