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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Seleção de 1970 opõe admiradores àqueles que não acham time tão bom

Nelson Piquet falou, certa vez, que gostava mais da equipe de 1994

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Enfim, vi um ótimo jogo ao vivo, o clássico alemão entre Borussia Dortmund e Bayern de Munique. Vitória por 1 a 0 do Bayern, em um jogo equilibrado, que teve até torcida virtual, dos dois lados, produção da federação alemã.

O gol foi belíssimo, do jovem meio-campista Kimmich, um dos destaques do time e da seleção alemã. Teve também a colaboração do goleiro. O Bayern não tem volantes. São dois meio-campistas, que marcam, organizam e avançam no momento certo. Foi uma partida quase toda jogada com dois toques, com poucos dribles, características do estilo alemão. Faltou ao Borussia a sua imensa torcida, a real, uma das mais vibrantes do mundo.

No último dia 25, o acervo da Folha mostrou, que, há 50 anos, o jornal publicou a seguinte manchete: “A seleção vence o último teste antes da Copa do Mundo”. Falou ainda que o time jogou em ritmo lento, na vitória por 3 a 0 sobre o Irapuato, do México.

Antes do jogo, a seleção já estava escalada para o Mundial, e Zagallo aproveitou para fazer várias mudanças. A impressão que todos nós tínhamos, jogadores e comissão técnica, era a de que a equipe tinha evoluído bastante nos treinamentos e que estava em condições de brilhar no Mundial. A dúvida era na comparação técnica com as três favoritas: Inglaterra, Itália e Alemanha.

Ficamos dois meses e meio no México, a maior parte do tempo em Guadalajara, onde jogamos as cinco primeiras partidas, por termos sido o primeiro de nosso grupo. Em Guadalajara, nos hospedamos longe do centro. Parecia um hotel de encontros. Era simples e confortável. Na entrada, havia um grande refeitório, onde fazíamos também nossas reuniões. No centro do hotel, tinha uma piscina e, em volta, em forma de “U”, havia dois andares de apartamentos. Eu e Piazza ficamos juntos, como acontecia no Cruzeiro.

A cada semana, havia uma folga, que começava após o almoço e terminava às 23h do mesmo dia. Cada um fazia o que queria. Meus pais, que foram assistir ao Mundial, em uma companhia de turismo, me visitavam. Meu pai aproveitava para dar instruções técnicas e táticas e para criticar meus “chutinhos” a gol.

Pelé é levantado durante comemoração do título da Copa do Mundo de 1970, após a vitória da seleção brasileira sobre a a Itália, por 4 a 1, no Estádio Azteca
Pelé é levantado durante comemoração do título da Copa do Mundo de 1970, após a vitória da seleção brasileira sobre a a Itália, por 4 a 1, no Estádio Azteca - 21.jun.1970/AFP

Treinávamos pela manhã e à tarde. Zagallo era obcecado por detalhes táticos. Usava uma mesa de botões para mostrar o posicionamento e a movimentação dos jogadores. Exigia que o time, quando perdesse a bola, tivesse os três do meio-campo (Clodoaldo, Gérson e Rivellino) à frente dos três defensores.

Se um dos três avançasse e não desse tempo para voltar, um dos três à frente (Pelé, Jairzinho ou eu) tinha que recuar para marcar. Jairzinho, com frequência, com sua velocidade, voltava pela direita e formava uma linha de quatro no meio-campo.

A ideia de Zagallo era repetir o esquema tático do Botafogo, de marcação mais recuada para contra-atacar. O time fez muito mais que isso. Inicialmente, os titulares seriam Roberto, de centroavante, e Paulo Cézar Caju, pela esquerda. Eu e Rivellino ganhamos as posições, nos treinos e nos amistosos.

Hoje, muitos jovens, que só assistiram às reprises da seleção de 1970, falam que o time era muito bom, excelente, mas não tanto quanto dizem. O piloto Nelson Piquet falou, certa vez, que gostava mais da seleção de 1994 que da de 1970. Já outras pessoas, geralmente mais velhas e/ou saudosistas, dizem que, quanto mais veem a seleção de 1970, mais ela fica melhor. Compreendo. Sempre que escuto as músicas antigas de Tom Jobim e de Chico Buarque gosto mais.

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