Assisti e participei de várias partidas no Maracanã, que completa 70 anos nesta terça (16). Na arquibancada, como torcedor, e pelo Cruzeiro, pelo Vasco e pela seleção brasileira, como jogador. Cinco momentos foram inesquecíveis, marcantes em minha carreira e em minha vida.
O primeiro foi em 1963. Eu tinha 16 anos e já era titular do time principal do Cruzeiro. Eu e três amigos do bairro, de idades próximas, passamos o fim de semana no Rio de Janeiro, para passear e ver a final do Campeonato Estadual, entre Flamengo e Fluminense
Na sexta-feira, de ônibus, à noite, fomos para o Rio. Chegamos no sábado, pela manhã, e nos hospedamos em Copacabana, na avenida Atlântica, em frente à praia.
A avenida Atlântica tinha apenas uma pista. Atravessávamos a rua e já estávamos na praia. Divertimo-nos durante todo o dia, jogamos bola, nadamos e olhamos as belas garotas. Cansados, dormimos bastante e, no outro dia pela manhã, já estávamos na praia novamente.
À tarde, fomos de ônibus para o Maracanã. Ficamos no meio da galera do Fluminense. Terminou 0 a 0, e o Flamengo foi campeão. Marcial, goleiro do Fla, fechou o gol. Tempos depois, o encontrei, no Hospital Universitário, onde trabalhávamos como médicos.
A partida teve 194 mil torcedores, o maior público da história em um jogo entre clubes. Depois do jogo, fomos direto para a rodoviária, onde pegamos um ônibus de volta para Belo Horizonte. O tio de um de meus amigos passou na pensão e levou nossas malas. Na segunda-feira, estávamos em casa. Foi um fim de semana para ficar na história.
Em 1969, seis anos depois, eu estava no gramado do Maracanã, ao lado de Pelé, contra o Paraguai, no jogo que definiu a classificação para o Mundial de 1970. Ganhamos por 1 a 0. Edu chutou forte, o goleiro soltou a bola, e eu e Pelé chegamos juntos. Deixei para o Rei. Era mais seguro. Foi o maior público pagante da história: 183.341 pessoas. Dizem que a final de 1950 tinha 200 mil, mas não foi comprovado o número de pagantes.
Eu estive presente no jogo de maior público entre clubes e no de maior número de pagantes da história.
Outro jogo inesquecível foi no mesmo ano, um amistoso da seleção contra a Inglaterra, campeã do mundo. Ganhamos de virada por 2 a 1. Fiz um gol deitado, que até hoje é comentado pelos ingleses.
Aquela partida teve uma grande importância, pois foi o reencontro festivo e emocional do futebol brasileiro com a seleção. Na época, havia um grande descrédito com nosso futebol, por causa da eliminação em 1966. Renasceu a euforia, com as feras de Saldanha, nome dado pelo próprio técnico aos jogadores.
O quarto jogo inesquecível também ocorreu em 1969, depois das Eliminatórias, um amistoso entre Cruzeiro e Fluminense. Ganhamos por 3 a 0. Enquanto a bola rolava, do lado de fora do estádio, o embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, sequestrado pelo MR-8 e pela Ação Libertadora Nacional, era libertado, trocado por prisioneiros da ditadura militar. No outro dia, estava na primeira página de todos os jornais. Senti-me parte da história.
Para terminar, eu vi, pela televisão, como se estivesse emocionalmente presente ao Maracanã, o encontro entre Pelé e Garrincha, um de cada lado, em um dos clássicos entre Santos e Botafogo, depois da Copa de 1958. Jogaram também Coutinho, Zito, Pepe, Didi, Nilton Santos e outros craques. Pela minha memória afetiva, é o melhor futebol do mundo, entre clubes, de todos os tempos. O estádio se iluminava e transbordava de talento
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