O Campeonato Paulista recomeça nesta quarta (22), com o clássico entre Corinthians e Palmeiras, dirigidos por dois treinadores de prestígio, de gerações diferentes, Luxemburgo e Tiago Nunes.

Dudu fará falta ao Palmeiras. Porém, pelo que vi na seleção sub-17, quando foi eleito o melhor jogador do Mundial da categoria, e pelo pouco que atuou no time principal do Palmeiras, tenho a impressão de que o jovem Gabriel Veron vai evoluir e se tornar um grande jogador.

Existem, resumidamente, dois tipos de técnicos no mundo. A maioria absoluta prefere a segurança, a repetição tática durante toda a partida. Marcam mais atrás, para não deixar espaços. Detestam ser surpreendidos. Quase todos os times brasileiros seguem esse modelo. São rotulados de conservadores, a não ser quando precisam, desesperadamente, da vitória. Os mais famosos com essas características são Simeone, Ancelotti e Mourinho.

A adoração dos técnicos pragmáticos pelos resultados, pela disciplina tática e pelo jogo coletivo e a pouca atração pela improvisação e pelos devaneios individualistas são efeitos colaterais da ciência esportiva, como se não fosse possível unir as duas visões, a mais romântica e a mais científica. As duas são essenciais e podem conviver.

Poucos treinadores, como Guardiola, Klopp, Sampaoli, Bielsa, Jorge Jesus e alguns jovens discípulos são mais ousados, gostam do domínio da bola e do jogo e de pressionar no campo adversário. Formam times compactos, com os zagueiros mais à frente e com pouca distância entre o jogador mais recuado e o mais adiantado. Com isso, os goleiros precisam saber jogar fora do gol, para se anteciparem ao atacante. Já os técnicos conservadores morrem de medo dessa estratégia.

Marcelo Bielsa conseguiu a façanha de ser bastante elogiado em todo o mundo sem ganhar títulos importantes, contrariando o lugar comum de que a história é sempre contada pelos vencedores. Ele deve dirigir o Leeds United na próxima Premier League, já que foi campeão da segunda divisão com o clube, que, aliás, joga um belo futebol coletivo.

A eliminação da seleção argentina, dirigida por Bielsa, na primeira fase da Copa de 2002, quando era uma das favoritas, por causa da excepcional campanha nas Eliminatórias, solidificou a fama de que ele é um grande mestre, mas não é ganhador de títulos. Contribuem para isso suas excentricidades e exigências, que se tornaram lendas no futebol.

Guardiola conta que, antes de dirigir o Barcelona, viajou até a Argentina para conversar com o mestre. Ele e Bielsa teriam passado toda a noite vendo vídeos e discutindo detalhes táticos.

Bielsa parece gostar de dirigir times pequenos, para ensinar. Não sei se tem a ver, mas Freud, após uma detalhada pesquisa, escreveu sobre os “arruinados pelo sucesso”, nome que deu às pessoas que chegaram ao máximo da carreira e que fizeram tudo para voltar às origens. Essas pessoas teriam, segundo Freud, uma culpa imaginária, por não se sentirem merecedoras do sucesso.

Todos os técnicos são diferentes, até mesmo os do mesmo estilo, pois cada um possui seus conceitos, diferenças técnicas e táticas, manias, conceitos e seu jeito de fazer.

Muitos jovens que não acompanham as principais equipes europeias devem ter descoberto um novo futebol, o do Flamengo, com Jorge Jesus. O clube e o futebol brasileiro nunca mais vão esquecer o técnico português.