Pela milionésima vez –não será a última–, escrevo sobre os clássicos meias de ligação brasileiros, muito elogiados e criticados, um assunto tão discutido no jornalismo esportivo.
Esses jogadores atuam entre os volantes e os atacantes, em pequenos espaços, não participam da marcação, tentam receber a bola livre, atrás dos volantes adversários e, de vez em quando, dão passes decisivos e fazem gols. Quando isso acontece, são tratados como craques. Se não, são rotulados de preguiçosos.
Dos meias de ligação que atuam no Brasil, o mais promissor é o jovem Jean Pyerre, do Grêmio, que barrou Luan na temporada passada.
Como nas categorias de base ele atuava mais recuado, como um segundo volante, é diferente dos outros. Gosta de receber a bola mais recuado, com a ampla visão do conjunto, para dar ótimos passes, além de finalizar, com precisão, de fora da área. Se for para a Europa, certamente vão escalá-lo como meio-campista, para jogar de uma intermediária à outra.
Luan, em seus melhores momentos no Grêmio, tinha a companhia de Maicon e Arthur, que tratavam muito bem a bola e, junto com ele, comandavam o time. No Corinthians, isso não existe. O time corre muito, mas a bola corre pouco.
Muitas equipes, principalmente na Europa, jogam com um ponta de lança, perto do centroavante, no lugar do meia de ligação. São diferentes. O ponta de lança tem característica de atacante, de artilheiro, e volta apenas para receber a bola. O meia de ligação é um armador, que costuma atuar longe do centroavante e do gol.
Uma razão importante para os europeus não terem um meia de ligação é o fato de os times serem mais compactos. O meio-campo desarma, avança e se aproxima dos jogadores de frente. Não há espaço para ter um jogador entre eles.
Dos principais times da Europa, o único que utiliza um meia de ligação é o Manchester United, após a contratação do português Bruno Fernandes, que tem brilhado na equipe inglesa.
Outro motivo para não se ter um meia pelo centro é que outros jogadores fazem essa função. No Flamengo europeu, dirigido por Jorge Jesus, o meio-campista Gérson marca, inicia as jogadas de trás e chega à frente, pelo centro. Éverton Ribeiro e Arrascaeta, pelos lados, não têm posições fixas. Entram em diagonal e, pelo meio, fazem jogadas decisivas.
Será que um dia os times brasileiros deixarão de ser divididos entre volantes que marcam e meias que avançam, deixarão de ter pontas colados às laterais e centroavantes fixos durante todas as partidas e deixarão de começar e de terminar os jogos com o mesmo desenho tático na prancheta, tudo certinho, repetido?
Evidentemente, o problema das equipes brasileiras não é apenas tático nem causado pela presença de um clássico meia de ligação. É também pela falta de melhor técnica individual, a execução dos fundamentos da posição, como o desarme, o passe, o drible, a finalização, a cobrança de falta, a lucidez nas decisões e outros detalhes.
Os jogadores e os times, desde as categorias de base, se preocupam demais com a habilidade e com a estratégia de jogo e se esquecem de aprimorar a técnica individual.
Como dizia o mestre Cruyff, não basta treinar, é preciso ensinar, não ter vergonha de aprender. Em qualquer atividade, só aprende quem quer e quem não acha que sabe tudo.
Rodrigo Rodrigues
Não o conheci pessoalmente, mas admirava seu bom senso de humor, sua versatilidade, sua leveza e seu sorriso agregador.
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