A final do Estadual do Rio acontece nesta quarta (15). Nos dois jogos anteriores, o Flamengo não foi superior ao Fluminense, como se esperava, ainda mais que tinha treinado por mais tempo. Por quê? O Fluminense se agigantou e teve uma postura tática que anulou o rival? O Flamengo se desconcentrou, achou que seria fácil vencer? A incerteza sobre a permanência de Jorge Jesus desestabilizou a equipe? A ausência da torcida prejudicou mais o Flamengo?
Pode ser tudo isso, mas penso que a falta da torcida seja uma razão importante. As pessoas, especialmente as mais famosas, necessitam da aprovação e do aplauso do outro. Os jogadores, como Gabigol, e o técnico do Flamengo criaram com o torcedor um ambiente de euforia, de cumplicidade e de dependência afetiva. Nas duas partidas, Jorge Jesus ficou quieto, calado, sem demonstrar sua habitual inquietação e ousadia.
Jorge Jesus se mantém em silêncio sobre se continua ou não, porque deve estar em dúvida ao analisar as vantagens e desvantagens profissionais e pessoais, que vão muito além de salários. É humano.
Na semana passada, escrevi que as partidas, em todo o mundo, sem torcida, estão próximas do habitual. Alguns times estão melhores, como o Real Madrid e o Manchester United, apesar do empate do time inglês no meio da semana. A explicação para a evolução da equipe é óbvia, a de que o técnico, após a longa ausência, pode escalar juntos os melhores jogadores, que estão em forma, o que não acontecia antes.
Pogba não é o melhor meio-campista do mundo –o melhor é De Bruyne–, mas, quando brilha, é o que mais me encanta. Ele costuma jogar menos do que poderia. É elegante, alto, forte, rápido, atua de uma área à outra, possui excelente técnica, além de ser inventivo, fantasista. Parece um cisne deslizando no gramado.
Por outro lado, às vezes exagera, inventa e erra. Quer ser mais artista que a arte, mais criativo que a criatividade. Pogba teve também várias contusões, e o Manchester United, antes da pandemia, tinha grandes deficiências técnicas.
Na Espanha, o Real Madrid é quase campeão. Zidane usa duas formações táticas, nos momentos certos. Uma, com quatro ou cinco no meio-campo. O time troca passes, fica com a bola e chega com vários jogadores à frente. Outra, quando é mais atacado, com um ou dois atacantes rápidos pelos lados, para aproveitar o contra-ataque.
Em agosto, volta a Liga dos Campeões da Europa. Um comentário recorrente é que o PSG tem obsessão por ganhar o título, o que é óbvio. Falam também que Neymar foi contratado para isso e que o clube e o jogador fracassaram nos últimos anos.
Não é bem assim. Mesmo se Neymar estivesse em forma nas últimas decisões –estava contundido–, o PSG seria inferior aos principais candidatos ao título.
No sábado, a Folha publicou uma entrevista com Vicente del Bosque, técnico campeão, pela Espanha, do Mundial de 2010 e da Eurocopa de 2012. Ele disse que a alma, a vida de um time, são os meio-campistas. Há mais de 20 anos, escrevo isso. Repito, pela milionésima vez, que os técnicos brasileiros, há décadas, dividiram o meio-campo entre os volantes que marcam e os meias ofensivos que atacam.
Desapareceram os craques meio-campistas, construtores, que gostam da bola, que, raramente, erram um passe e que jogam de uma intermediária à outra.
Os jovens treinadores brasileiros e os mais velhos que querem se reinventar deveriam ter o compromisso de recuperar o tempo perdido.
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