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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Descrição de chapéu Campeonato Paulista 2020

Precisamos aprender com as pestes que assolam a nação e o futebol

Exuberância do Flamengo e 7 a 1 atestaram o atraso do jogo coletivo no Brasil

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A peste continua. Enquanto não houver imunidade natural coletiva ou uma eficiente vacina, não haverá solução. Segundo alguns especialistas, o vírus chegou no início de fevereiro, de avião, por Rio de Janeiro, São Paulo e Fortaleza. O Carnaval teria disseminado a doença.

Ao falar da peste, lembro de Freud e de Carl Jung. Os dois, quando eram amigos, no início do século 20, no fervor da psicanálise na Europa, foram convidados pelas universidades americanas a dar palestras nos Estados Unidos sobre o novo conhecimento. Durante a viagem de navio, Freud teria dito a Jung: “Vamos levar a peste aos americanos”.

Freud diria aos pragmáticos americanos o que eles não gostariam de escutar, que existe, nas profundezas da alma, um outro mundo, inconsciente, repleto de contradições, pecados, desejos e sonhos, que influenciam a vida consciente. Os americanos, na média, diferentemente dos europeus e sul-americanos, nunca se entusiasmaram e incorporaram a psicanálise. Os europeus gostam muito mais de Woody Allen que os americanos.

No futebol, a peste chega também de várias maneiras, às vezes opostas, como a tragédia dos 7 a 1, ou, indiretamente, com o belo time do Flamengo. Ao brilhar intensamente, o Flamengo evidenciou a enorme fragilidade dos adversários.

Mesmo assim, pouco tem mudado no futebol brasileiro. Os treinadores estão mais preocupados com as críticas, com as quais não concordam, do que em evoluir e reinventar a maneira de jogar. Precisamos aprender com as pestes que assolam a nação e o futebol.

Os 7 a 1 e a exuberância do Flamengo atestaram o atraso do jogo coletivo do futebol brasileiro, os enormes espaços entre os setores, a pouquíssima recuperação da bola perto do outro gol, a pouca aproximação dos atletas, para trocarem passes e terem o domínio do jogo e da bola, e o excesso de bolas longas e aéreas.

As enormes dificuldades dos times grandes para vencerem os pequenos nos estaduais, especialmente os de São Paulo, que estão entre os que mais investem, é uma demonstração dessa deficiência. Com exceção do Bragantino, os outros do interior não estão na Série A do Brasileiro.

Ainda bem que existem coisas boas, como a grande qualidade dos goleiros Cássio e Weverton; a presença de alguns veteranos que têm muita classe e técnica, como Daniel Alves e Jô; o surgimento de jovens revelações, com grande chance de evoluir, como Patrick de Paula, Gabriel Menino e Éderson; o baixinho venezuelano, rápido e driblador, Soteldo; a tentativa de vários técnicos de melhorar a saída de bola da defesa, com passes dos zagueiros e dos volantes; e vários outros detalhes.

O volante Éderson em ação pelo Corinthians
O volante Éderson em ação pelo Corinthians - Daniel Augusto Junior/Agência Corinthians/Divulgação

Não se pode confundir volantes, que desarmam, têm um bom passe na saída de bola da defesa, e que, às vezes, chegam à frente para fazer gols, como Casemiro, Patrick de Paula e Éderson, com os meio-campistas habilidosos e criativos, que atuam de uma área à outra, construtores, como Kross, Modric, De Bruyne, Gérson, do Flamengo, entre outros. Os meio-campistas precisam ser formados nas categorias de base como meio-campistas, e não como volantes.

A comparação entre Éderson e Paulinho é apenas por causa do número de gols marcados pelo jovem jogador. Os gols de Éderson tem sido de finalizações de fora da área, enquanto os de Paulinho são quase sempre de dentro da área.

Hoje, quero ver bons jogos nos estaduais. Não basta vencer. É preciso jogar bem, se possível encantar, como fez o Flamengo com Jorge Jesus.

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