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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Equipes brasileiras começam a perder dependência dos meias de ligação

Alguns times não têm mais o jogador que não participa da marcação e fica à espera da bola

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A televisão brasileira completou 70 anos. Sou mais velho. Quando tinha oito anos, o apartamento em que eu morava foi o primeiro do prédio a ter uma TV. No domingo, todos os vizinhos iam à minha casa. Era uma festa. Como trabalho em casa, desde antes da pandemia, vejo muita televisão. Às vezes, a mesma reportagem e as mesmas imagens um milhão de vezes. A televisão ajudou a construir, desconstruir e entreter o mundo.

Conheci um psicanalista que não gostava de televisão e que tinha muitas dúvidas sobre palavras e expressões traduzidas da obra de Freud, que eram, geralmente, traduzidas do alemão para outra língua e, depois, para o português. É um caminho cheio de interpretações. Para compreender melhor, ele estudou alemão em Belo Horizonte e, insatisfeito, foi para a Alemanha fazer um curso completo dos livros de Freud, em alemão.

Disse o psicanalista que compreendeu melhor várias palavras, como negação. Um sentido, o habitual, é o de negar, mas ter a consciência de que negou. O corrupto tem certeza de que é corrupto. Outro sentido da palavra são os negacionistas, que apagam da mente o que não querem, o que não lhes agrada. Criam outra realidade, a do absurdo. É uma mistura de negação com onipotência do pensamento.

Continuo em quarentena. A pandemia não acaba. O futebol e a televisão me ajudam a passar o tempo. Percebi que técnicos, comentaristas, políticos, às vezes, negam os fatos e só veem o que combina com a sua opinião, com seus conceitos. O restante é esquecido ou não visto. Somos quase todos tendenciosos, uns mais que outros.

Recomeçou a Libertadores. Domènec foi apresentado à altitude e a um bom time da América do Sul, o Independiente Del Valle. Ele deveria ter aprendido com Luxemburgo a como arrumar uma estratégia de jogo para a altitude.

Não entendi as duras críticas ao São Paulo e a Fernando Diniz, pelo empate com o River Plate. O São Paulo jogou o que sabe. O time argentino é superior, mesmo fora de casa, ainda mais sem torcida. Alguém disse que o elenco do São Paulo é excelente, e a maior parte repete.

Na rodada do meio de semana, escutei, novamente, os muitos lugares comuns e clichês da Libertadores, como "é preciso ter espírito de Libertadores", "árbitro não marca qualquer falta", "para ganhar, tem que ter muita garra" e tantos outros.

A ausência de público pode beneficiar os visitantes na Libertadores, já que a pressão e o barulho da torcida costumam estimular os jogadores da casa e inibir os de fora. Concordo com o jornalista Marcos Uchôa, no Redação SporTV, que disse que o torcedor brasileiro elogia quando o time acerta e vaia quando erra.

O torcedor está sempre certo, enquanto os outros sul-americanos, especialmente os argentinos, são fiéis nas vitórias e nas derrotas, na alegria e na tristeza, do início ao fim do jogo.

As equipes brasileiras começam a perder a dependência dos clássicos meias de ligação, que jogam entre o meio-campo e o ataque, que não participam da marcação e que ficam à espera da bola, em pequenos espaços, para executar um grande lance.

Alguns times já não têm mais esse meia. Luxemburgo tem escalado Lucas Lima ou Raphael Veiga pela direita. Eles voltam para marcar e tentam armar as jogadas saindo do lado para o centro, de frente para o gol, em vez de jogarem de costas. Assim atua Everton Ribeiro, no Flamengo, e vários jogadores europeus.

Aos poucos, o futebol brasileiro evolui.

Everton Ribeiro em ação pelo Flamengo no Campeonato Brasileiro
Everton Ribeiro em ação pelo Flamengo no Campeonato Brasileiro - Rodolfo Buhrer - 15.ago.20/Reuters

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