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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Técnicos, times e jogadores são exaltados e rapidamente esquecidos

Futebol é o paraíso dos clichês e conceitos deturpados que confundem uma correta avaliação

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No futebol e em todas as atividades, precisamos separar as coisas que têm muito pouca ou nenhuma importância. Por causa da radicalização da sociedade e da avalanche de informações e opiniões, o discernimento está cada vez mais difícil. Existe, com frequência, uma inversão de valores.

O futebol é o paraíso dos clichês, dos lugares-comuns e dos conceitos, muitos deturpados, que confundem uma correta avaliação.

Todas as vezes que um treinador troca os jogadores durante a partida, o time melhora e vence, o comentário pronto, a única explicação, é a de que o treinador ganhou a partida, como se não houvesse dezenas de outros fatores envolvidos e como se o segundo tempo fosse igual ao primeiro. É quase sempre diferente.

Por outro lado, é preciso reconhecer que, em várias situações, a conduta do técnico é decisiva na vitória.

Ocorre também o contrário. O técnico muda, a equipe piora e perde, por variados motivos, e ele, de gênio, passa a ser burro. Evidentemente, há muitos casos em que o técnico contribui bastante para a derrota.

Existe hoje uma supervalorização do técnico nas derrotas e nas vitórias. É preciso achar um herói ou um culpado, mesmo que haja, em um jogo, erros pontuais desastrosos dos atletas, como o de Fagner, contra o Palmeiras.

A imprensa se inflama e é inflamada pelas redes sociais, que geram muitas críticas ou elogios exagerados, que costumam fugir do bom senso. Técnicos, times e jogadores são exaltados no sucesso e rapidamente esquecidos.

No clássico paulista da última quinta-feira (10), o ótimo lateral direito colocou a mão na bola que ia para fora. O árbitro marcou pênalti, o Palmeiras fez o gol, e Fagner foi expulso.

Times que enfrentam outros do mesmo nível, ou ainda superiores, e ficam com um a menos e ainda têm de virar a partida, costumam ser goleados. No segundo tempo, o Corinthians ia para frente e deixava enormes espaços para os meias do Palmeiras mostrarem suas virtudes. Mesmo com 11 jogadores de cada lado, o Palmeiras tinha boas chances de ganhar a partida.

Visão do estádio
Partida entre Corinthians e Palmeiras na Arena Corinthians, em São Paulo - Amanda Perobelli - 10.set.20/Reuters

Desde o início do trabalho no Corinthians, o técnico Tiago Nunes cometeu vários erros, mas colocar a culpa nele pela derrota não faz sentido, já que o fato decisivo foi o pênalti e a expulsão.

O Corinthians não evoluiu com Tiago Nunes, mas uma das principais razões é a falta de qualidade individual. Há vários jogadores mais ou menos. O razoável Otero, que tem apenas a excepcional virtude de chutar e cruzar com enorme precisão, tem tudo para ser um destaque do time.

O Palmeiras possui um técnico mais experiente, que quer recuperar o prestígio, uma forte defesa e um elenco que só não é melhor, no Brasil, que o do Flamengo. É um dos principais candidatos ao título, mas pode jogar bem melhor.

Os três garotos do Palmeiras, Patrick de Paula, Gabriel Menino e Gabriel Veron, são tão bons que começam a carreira no nível dos melhores de suas posições no campeonato. A falta de mais qualidade na competição contribui para esse precoce sucesso.

Os grandes treinadores não são somente os que conhecem e utilizam bem a ciência esportiva, possuem uma ótima comissão técnica, planejam e treinam com eficiência.

São também os que unem o conhecimento e a experiência com a inventividade e a coragem para buscar a excelência. São ainda os que enxergam mais que os outros, que não têm lero-lero, que não dão voltas sem sair do lugar e que tomam decisões rápidas e objetivas.

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