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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Brasil tem de unir habilidade e criatividade com jogo coletivo moderno

Detesto o lugar-comum de que o futebol brasileiro precisa voltar à sua essência

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O jovem treinador do Independiente del Valle, Miguel Ángel Ramírez, de 36 anos, bastante elogiado em toda a América do Sul, mesmo que tenha aceitado a proposta milionária do Palmeiras e desistido antes de assinar o contrato, teve uma conduta profissional correta e ética ao recusá-la, com a justificativa de que só poderia assumir na próxima temporada, já que precisa terminar o trabalho no time equatoriano.

O pequeno Del Valle está classificado para as oitavas de final da Libertadores e disputa o título equatoriano, além de ter sido, nos últimos anos, vice-campeão da Libertadores (2016) e campeão da Sul-Americana (2019), esta última com Ramírez.

Quase todos os outros treinadores teriam aceitado a proposta e abandonado o atual projeto, fascinados com tanto dinheiro e em dirigir um gigante sul-americano.

Ramírez faz parte de um grupo de treinadores, como Sampaoli, Coudet, Torrent, Guardiola, Bielsa, Klopp, Hansi Flick, atual técnico do Bayern, e outros, que querem pressionar, recuperar a bola no outro campo, ter o domínio do jogo, atacar com muitos jogadores, mesmo correndo riscos calculados, pois deixam também mais espaços na defesa para o contra-ataque adversário.

Foto do técnico do time Independiente Del Valle, Miguel Ángel Ramírez, usando máscara
Miguel Ángel Ramírez no treino do Independiente Del Valle - Franklin Jacome/Divulgação/Agência Press South

O risco é variável. Vai depender da rapidez com que se recupera a bola e da velocidade, do posicionamento e da qualidade do goleiro e dos defensores, para neutralizar o contra-ataque. O Atlético é o time brasileiro que corre mais riscos, por avançar com sete jogadores.

Muitos jovens treinadores, do Brasil e de todo o mundo, estudiosos, acadêmicos, sonham em fazer com que seus times joguem dessa maneira, ofensivos, pressionando. A maioria fica no meio do caminho, por causa da impaciência dos torcedores, dos dirigentes e da crônica esportiva.

Muitos têm também dificuldade de serem bons executores e observadores dos detalhes. Outros costumam não definir bem o que é mais urgente, decisivo, prioritário.

Além disso, o futebol é também imprevisível, cheio de paixões, de desencontros e de acasos.

Conhecimento não é apenas informação. “Os que têm estudo explicam a claridade e a treva, dão aulas sobre os astros e o firmamento, mas nada compreendem do universo e da existência, pois bem distinto do explicar é o compreender, e quase sempre os dois caminham separados” (O Albatroz Azul, de João Ubaldo Ribeiro).

Há mais de 20 anos, como cronista e com a ajuda do que aprendi como atleta, tento compreender os detalhes técnicos, táticos e humanos do futebol. Às vezes, chego perto.

Defendi sempre, com veemência, a ciência esportiva, o planejamento, a evolução da maneira de jogar e as estatísticas e também sempre critiquei duramente os que ficam parados no tempo, que se agarram à experiência sobre o que um dia deu certo. “A experiência é um farol iluminando para trás. Na frente, continua tudo escuro” (Pedro Nava).

Detesto o lugar-comum de que o futebol brasileiro precisa voltar à sua essência. O Brasil tem de unir a habilidade e a criatividade com o jogo coletivo moderno.

Por outro lado, não posso negar a presença marcante do imponderável. Só os ignorantes desprezam o acaso.

De vez em quando, alguém, jornalista ou não, querendo me agradar ou me criticar ou por qualquer outra razão, tenta me rotular de analista do acaso, como se eu valorizasse muito mais a improvisação do que o planejamento e a ciência esportiva. É preciso saber ler e interpretar.

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