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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro 2020

Negacionistas do bom futebol preferem disputas físicas, bolas aéreas e pressa

Se Xavi jogasse hoje no Brasil, diriam que é um bom jogador, porém burocrático

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O São Paulo, no empate com o Athletico, teve uma escalação e uma atuação muito ruins, com Daniel Alves jogando como atacante, ao lado de Brenner, uma atitude estranha de Fernando Diniz. Daniel não jogou nada, nem poderia, e o meio-campo sentiu a falta dele, embora Tchê Tchê tenha feito um belo gol.

Daniel Alves, assim como todos os jogadores e as equipes do Brasileiro, alterna momentos bons e ruins, mas é, na média, o jogador mais importante para o São Paulo estar na liderança, mesmo com quase 38 anos de idade.

Daniel Alves durante treino do São Paulo
Daniel Alves durante treino do São Paulo - Paulo Pinto - 12.dez.20/ saopaulofc.net

Não entendo por que tantas pessoas criticam duramente o jogador, como se ele fosse o principal culpado pelas derrotas e que deveria ser substituído. Uma das razões, certamente, é o fato de que essas pessoas esperam que Daniel Alves dê muitos passes e faça muitos gols. Mais que isso, desconhecem a posição e a função do jogador, responsável pela transição da bola de uma intermediária à outra.

O São Paulo poderia jogar com um trio no meio-campo, com Luan, pelo centro, mais recuado, com Daniel Alves de um lado e com Tchê Tchê do outro, como já fez em alguns jogos, ainda mais que o São Paulo não tem um meia de ligação, como Raphael Veiga, que tem uma poderosa canhota? Isso protegeria também as condições físicas de Daniel Alves.

Há, no Brasil, uma excessiva valorização de jogadores velozes, habilidosos, meias ofensivos e atacantes, ainda mais se fizerem gols, mesmo que só de vez em quando. Enquanto isso, jogadores brilhantes de outras posições são elogiados, mas não são tratados como tão importantes. Há vários, como Edenílson, do Inter, Maicon, do Grêmio, mesmo jogando pouco, e Pituca, do Santos.

Se Xavi jogasse hoje no Brasil, diriam que é um bom jogador, porém burocrático, por trocar muitos passes e entrar pouco na área, para fazer gols.

O ex-jogador Xavi em sua despedida do Barcelona
O ex-jogador Xavi em sua despedida do Barcelona - Gustau Nacarino - 23.mai.15

Treinadores brasileiros insistem em colocar jovens habilidosos, talentosos, construtores e organizadores, que chegam das categorias de base, para atuar mais perto do gol, como ocorre no Grêmio, com Jean Pyerre. Alguns brilham no Brasil porque há muitos espaços entre os volantes e os zagueiros. Quando vão jogar na Europa, não encontram essas facilidades e mudam de posição.

No segundo tempo do empate do Grêmio contra o Palmeiras, não sei bem por qual razão, estavam jogando Maicon e Jean Pyerre próximos. Iniciavam as jogadas no próprio campo. O chileno Pinares atuava mais à frente, na posição em que Jean Pyerre costuma atuar. O Grêmio, que era completamente dominado pelo Palmeiras, passou a comandar a partida com a troca de passes de uma intermediária à outra. Assim, o Grêmio chegou ao empate, com gol de Diego Souza.

Independentemente das dificuldades posicionais de Jean Pyerre, as últimas atuações foram decepcionantes, pela grande expectativa criada. Ele terá de reagir. Não basta ter talento para ser um craque. É preciso ter ousadia, senso crítico e uma alma inquieta.

Nesta quarta (20) e na quinta (21), jogam São Paulo e Inter, Grêmio e Atlético e Flamengo e Palmeiras, os seis candidatos ao título. Espero ver um futebol agradável, com muita troca de passes, eficiência, intensidade e muita qualidade individual e coletiva, com os jogadores fascinados pela beleza do jogo e pela vitória.

Existem também os que preferem outra partida, com muita disputa física, pressa para chegar ao gol, muitas jogadas aéreas e a busca pelo resultado, sem dar nenhuma importância à beleza do espetáculo. São os negacionistas do bom futebol.

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