Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Jogadores são endeusados e criticados por não sustentarem expectativa exagerada

Alguns ganharam elogios em demasia por causa de momentos brilhantes, mas passageiros

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Por que tantos jogadores em todo o mundo, especialmente no Brasil, após um período variável de sucesso, entram em queda e nunca mais recuperam a qualidade técnica? Os motivos são múltiplos, técnicos, físicos, táticos, psicológicos, pessoais. "São demais os perigos desta vida" (Vinícius de Moraes e Toquinho).

Outras vezes, predominam erros de avaliação. Vários jogadores foram exageradamente elogiados por causa de momentos brilhantes e passageiros. Eram bons, mas nem tanto.

Freud, após longo e minucioso estudo, chamou de "arruinados pelo sucesso", segundo tradução do alemão, profissionais, de variadas atividades, que brilham intensamente em suas carreiras e que perdem o prestígio sem aparentes motivos. Para Freud, essas pessoas possuem um sentimento de culpa, real e imaginário, de que não são merecedoras do sucesso. Passam, muitas vezes, sem perceber, inconscientemente, a fazer tudo para perder o que foi alcançado.

Muitos acham, o que virou um comentário pronto, um lugar-comum, que vários jogadores que perderam prestígio, como Ganso, Pato, Luan, Lucas Lima e tantos outros, desistiram da ambição de serem atletas e passaram a não ter a mesma gana de jogar cada vez melhor.

Ganso, no Santos, ao lado de Neymar, parecia que se tornaria um Gerson, um Rivellino, um Iniesta. Por que caiu tanto? Há dezenas de hipóteses. Ele se movimentava pouco em campo e jogava em pequenos espaços, entre os volantes e os zagueiros. Esses espaços diminuíram com o tempo. No Santos, tudo o que Ganso fazia era exaltado, porque o time ganhava. Tinha Neymar.

Dois homens de branco, em pé
Ganso e Neymar em partida pelo Santos, na Libertadores de 2012, contra o time argentino Vélez Sarsfield - Juan Mabromata-17.maio.2012/AFP

Luan, que joga na mesma posição de Ganso, chegou a ser o melhor da América e agora é reserva do Corinthians. No Grêmio, ele era a ponte, a ligação, de todos os jogadores do meio para frente. Estava em um clube que se destacava pela troca de passes, embora tenha caído muito de produção ainda no Grêmio.

Pato nunca foi o craque que diziam que ele era. Tem lampejos de excepcional atacante, mas possui várias deficiências técnicas e, geralmente, toma decisões equivocadas. No Mundial Sub-20, em 2007, Pato era a grande atração, maior até que o jovem argentino Agüero. Atuou bem, porém Agüero foi muito superior. A Argentina foi campeã, e Agüero foi o artilheiro e o melhor do Mundial. O argentino não se tornou o fenômeno que parecia ser, um Ronaldo, um Romário, mas tem uma carreira de muito mais destaque que a de Pato.

Existe, no Brasil, uma supervalorização de jogadores, por causa de ótimas atuações nos campeonatos nacionais e sul-americanos, de muito menos qualidade que os da Europa. Os atletas são endeusados e, depois, criticados, por não sustentarem a exagerada expectativa. Nas duas partidas do Mundial de Clubes, o Palmeiras não criou uma única chance de gol, mesmo contra adversários sem destaque mundial.

A deficiência principal do Palmeiras não foi jogar mal. Foi jogar de uma maneira medíocre, ultrapassada, de quase somente chutões e bolas longas da defesa para o ataque, além de mostrar um enorme distanciamento entre os jogadores em campo.

O futebol é o espelho do que acontece no país. Os europeus são superiores aos sul-americanos porque possuem condições muito melhores, econômicas, sociais, educacionais e profissionais. Com isso, desenvolveram melhor a técnica e a estratégia de jogo. Acabou também a lenda de que, no Brasil, nasce um craque em cada esquina. Quando nasce, vai cedo para os grandes times europeus.

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