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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Palmeiras x Grêmio deveria ter emoção e belos lances, mas pode ser jogo truncado

No mundo ideal, a imprensa cobraria, com mais ênfase, maior qualidade técnica

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Assim como outras atividades, o futebol deveria parar neste grave momento. Perderíamos uma de nossas distrações, mas é necessário.

Hoje, Palmeiras e Grêmio decidem o título da Copa do Brasil. O Palmeiras, em casa, joga pelo empate, já que venceu a primeira partida, em Porto Alegre, por 1 a 0.

O Palmeiras depende demais das bolas paradas e dos contra-ataques. Muitas vezes, não funciona. Não se deve confundir as bolas paradas, uma jogada importante, ainda mais quando há ótimos cabeceadores, como Gustavo Gómez, com o excesso de jogadas aéreas, com a bola em movimento. Isso, os grandes espaços entre os setores, a pouca troca de passes e o pouco domínio da bola são as principais deficiências do Palmeiras e de quase todos os outros times brasileiros.

O Palmeiras não tem o melhor time do país —é o Flamengo—, mas possui o melhor elenco, pois tem dois jogadores bons e do mesmo nível na maioria das posições, com exceção de substitutos à altura para o goleiro Weverton, o zagueiro Gustavo Gómez e o lateral esquerdo Matías Viña. A qualidade do elenco é o principal motivo das conquistas do Campeonato Paulista, da Libertadores e, talvez, da Copa do Brasil.

Renato Gaúcho tem razão quando pede reforços e quando diz que todos os times pioraram por causa da pandemia. Por outro lado, o Grêmio se desconstruiu, com algumas deficiências coletivas. Há muitos espaços entre os setores, o que não acontecia, e os três talentosos do meio-campo perderam a conexão com os três da frente. O time depende demais da bola cruzada para Diego Souza, parado, dentro da área.

Hoje, o jogo ideal seria com emoção, com belos lances e com talento individual e coletivo. Provavelmente, a partida real será outra, contida, feia, truncada. Se isso ocorrer, continuará a desculpa de que a final é para ganhar, e não para jogar bem. De clichês em clichês, o futebol brasileiro vive de retrocessos e de fracassos.

O futebol e a vida se passam em um mundo ideal e em outro real. Existe o mundo real, violento, corrupto, injusto, preconceituoso, e outro ideal, com que sonhamos, embora façamos pouco para alcançá-lo.

No mundo ideal, o Brasil teria um presidente que segue a ciência e que lidera a vacinação. No real, temos um presidente com descaso pela saúde, mesmo diante de uma gravíssima tragédia.

Quanto maior a distância entre o mundo real e o ideal, maior o desamparo e a insegurança.

No mundo ideal, os atletas entrariam em campo só para jogar futebol, com respeito aos adversários, aos árbitros e aos auxiliares. No real, os jogadores promovem grandes tumultos em campo. Os atletas, tensos e pressionados para vencer de qualquer jeito, agridem antes de serem agredidos. Os treinadores simulam a violência, com comportamentos agressivos e discursos de guerra.

No mundo ideal, a imprensa cobraria, com mais ênfase, mais qualidade técnica e bons espetáculos. No real, parte da mídia incorpora o discurso de treinadores e de jogadores, de que o que interessa é o resultado e que, no futebol moderno, não há mais lugar para devaneios e fantasias.

No meu mundo ideal, tento assistir a todos os jogos com o olhar romântico de um apreciador de belas jogadas, do espetáculo. No meu mundo real, necessito também ser pragmático e um analista técnico, tático e científico, capaz de compreender as necessidades e os desejos dos treinadores.

Tento unir as duas visões. Nem sempre consigo. As duas se estranham.

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