Durante a partida entre Dinamarca e Finlândia, pela Eurocopa, se não houvesse médicos capacitados, com a ajuda de um desfibrilador, o dinamarquês Eriksen não estaria vivo. Ele teve uma parada cardíaca e só sobreviveu porque recebeu, imediatamente, o tratamento de ressuscitação cardiopulmonar.
O fato é um alerta. Sei que existe, nos campeonatos do Brasil e do exterior, um protocolo de atendimento nesses casos. Mas, como são pouco comuns, corre-se o risco de haver uma acomodação. Todos os clubes, inclusive os de lazer, têm a obrigação, por necessidade e por lei, de ter uma estrutura médica e tecnológica de plantão.
Começou a Eurocopa, com público nas arquibancadas. A França, no estilo do Mundial de 2018, com marcação recuada e contra-ataques, ganhou da Alemanha. Mais que isso, venceu porque tem melhores jogadores. Portugal fez três na Hungria, com gols no fim, após a substituição de alguns da tão elogiada nova geração portuguesa. Cristiano Ronaldo fez dois.
Gostei da Itália, renovada, no individual e no coletivo, na vitória por 3 a 0 sobre a Turquia. A equipe, além de recuperar rapidamente a bola, jogou um futebol leve, ofensivo e prazeroso. Isso contrasta com a tradicional Itália, a da supermarcação, das bolas longas e do contra-ataque. Esse estilo foi importado, nas últimas décadas, pelo Brasil. A Itália jogava feio, mas ganhava, quando tinha grandes craques.
Durante a Copa de 2006, na Alemanha, escrevi uma coluna para a Folha em que não entendia a razão de a Itália, um país tão bonito, de coisas tão belas e de um design maravilhoso em todos os setores, jogar um futebol tão utilitarista e sem fantasia.
No outro dia, quando cheguei ao centro de imprensa da Copa, jornalistas italianos, que trabalhavam em uma mesa ao lado dos da Folha, com quem conversávamos diariamente, receberam-me com protesto por causa do texto. Assustei-me, mas logo percebi que era uma brincadeira, que concordavam comigo que a Itália jogava um futebol feio. A Itália acabou campeã do mundo.
Na Copa América, o Brasil, com facilidade, ganhou da bastante desfalcada Venezuela, com 13 jogadores infectados pela Covid-19. Até esta terça (15), 53 pessoas já haviam recebido diagnóstico da doença, sendo 27 entre jogadores e comissões técnicas e 26 prestadores de serviço. Contrair o vírus e correr o risco até de morrer pode. Suspender a competição, não pode. É o realismo mágico da América do Sul, que continua em grave situação. Gabriel García Márquez escreveria um belo romance sobre as paixões, a vida e a morte em tempos de Covid.
Contra a Venezuela, Tite mudou novamente os jogadores e a estratégia. Como a Venezuela tinha cinco defensores, o técnico escalou cinco no ataque (Richarlison de centroavante, Gabriel Jesus pela direita, os meias Neymar e Paquetá e o lateral Renan Lodi de ponta esquerda). É uma justificativa correta, mas seria mais simples colocar um atacante pela esquerda (Richarlison, Vinícius Júnior ou Everton Cebolinha), voltar Renan Lodi para a lateral e tirar Fred, que entrou com a função de fazer a cobertura de Renan Lodi.
Tite e sua científica comissão técnica são muito bem preparados, mas precisam ter cuidado com as teorizações. No último Mundial, adiantou Marcelo, colocou Miranda de lateral-esquerdo para marcar o centroavante Lukaku, que se deslocava pela direita, e deixou um vazio no meio para o craque De Bruyne. Tite, cuidado, não invente.
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