Uma partida é, raramente, suficiente para mudar os conceitos individuais e/ou coletivos, mas pode ser importante para reafirmar algumas opiniões. O jogo entre Brasil e Argentina, na final da Copa América, confirmou que a seleção brasileira, fora alguns jogadores, como Neymar, Casemiro, Thiago Silva e Marquinhos, não possui titulares definidos. São todos bons, porém comuns.
O jogo reafirmou também que, após a Copa de 2018, o Brasil não formou um único excepcional jogador nem evoluiu taticamente. Depende demais de lances isolados, arrancadas, dribles, quase sempre com a participação de Neymar. A equipe, em vez de trocar passes e de fazer a bola chegar a Neymar mais perto do gol, dá a bola ao craque, que, recuado, tenta driblar. Quando consegue, é derrubado. Há uma nítida separação entre os volantes que marcam, Casemiro e Fred, e os quatro jogadores que atacam.
Tite errou na escalação e nas substituições. Everton Cebolinha nunca se destacou pela direita, e Richarlison não sabia se era um atacante pela esquerda, com a obrigação de voltar para marcar, ou um centroavante. As substituições tornaram a equipe confusa, perdida.
A Argentina evoluiu, progressivamente, desde a Copa de 2018, no conjunto e no amadurecimento de alguns jogadores, como o meio-campista De Paul, o goleiro Martínez e o jovem zagueiro Romero. Nunca vi Messi com um sorriso tão largo quanto o exibido após o jogo. A Argentina vai aumentar a confiança e pode chegar à Copa do Mundo nas mesmas condições do Brasil, até com chances de ganhar o título.
Na Eurocopa, a Itália, que tinha sido sufocada pela Espanha, sufocou os ingleses, que, acuados, não conseguiram, na maior parte do jogo, fazer a transição da bola para os dois atacantes, Sterling e Kane, isolados.
A transformação recente na maneira de jogar da Itália é mais uma evidência da globalização do conhecimento. No Brasil, ainda existe uma grande dificuldade de conciliar o drible com o passe e a fantasia e os devaneios individuais do passado com a obsessão delirante pelos detalhes estratégicos.
O péssimo gramado do Maracanã, as aglomerações fora de campo, a falsificação de exames para entrar no estádio e o jogo bastante violento foram demonstrações de nosso atraso estrutural e de comportamento. Por outro lado, mais graves e criminosos foram os insultos racistas de muitos torcedores ingleses por causa dos pênaltis perdidos por três jovens atletas negros. O racismo está presente na Inglaterra, no Brasil e em todos os países. É universal.
Iguais e diferentes
Enquanto Renato Gaúcho, na praia, na cidade que adora, sonhava em ser contratado pelo Flamengo, o clube procurava um motivo para demitir Rogério Ceni. O namoro deu certo.
O Flamengo certamente vai melhorar, com Renato e com a volta de alguns de seus principais jogadores. A dúvida é se a torcida e a mídia vão se contentar com mais vitórias ou se vão exigir um desempenho da equipe como na época de Jorge Jesus. Provavelmente, se continuasse, Jorge Jesus passaria também a ser criticado.
Renato Gaúcho e Rogério Ceni, cada um de seu jeito, são autossuficientes, às vezes arrogantes. Rogério Ceni é seco, frio, de respostas curtas, diretas, às vezes, desagradáveis, enquanto Renato é mais bem-humorado, falastrão, gozador. Rogério Ceni é mais científico, aritmético, obsessivo, detalhista, enquanto Renato é mais observador, intuitivo. Tem mais a cara do Flamengo.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.