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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Conversa no começo da carreira já revelava um Ronaldo ambicioso

Transparência no processo de administração do Cruzeiro será essencial

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Perto do Mundial de 1994, vi Ronaldo jogar pelo Cruzeiro, com 17 anos, e fiquei encantado. Parecia um fenômeno, como foi, um dos maiores da história do futebol. Na época, disse, em uma entrevista, que ele deveria ser convocado e que só não seria titular porque o Brasil já tinha uma excepcional dupla de atacantes, Romário e Bebeto. Na final, contra a Itália, durante a prorrogação, Ronaldo é quem deveria ter entrado, e não Viola.

No outro dia, um repórter levou Ronaldo à minha residência, para fazer uma matéria. Durante a conversa, ele, já ambicioso, como os grandes craques, me perguntou se eu tinha comprado o apartamento com o dinheiro que ganhara no futebol. Não imaginava que, em pouquíssimo tempo, poderia comprar um igual com o salário de um mês.

Ronaldo foi embora, após a reportagem, mas voltou, porque esquecera a carteira. Freud diria que foi um ato falho, um desejo inconsciente de retornar, talvez para conversar mais um pouco, sem a presença do jornalista.

O atacante Ronaldo em 1993, quando era jogador do Cruzeiro
O atacante Ronaldo em 1993, quando era jogador do Cruzeiro - Giovani Pereira - 8.nov.1993/Folhapress

O empresário Ronaldo é, agora, o dono do futebol do Cruzeiro, ao comprar 90% das ações do clube, que, dias antes, se transformara em clube-empresa. Outros clubes brasileiros devem seguir o mesmo caminho, uma esperança, mas que não é a única nem a certeza de sucesso. O Bayern de Munique, um dos clubes mais organizados e vitoriosos do mundo, vendeu 49% das ações para empresas e, com 51%, segue como administrador do clube.

Não foi ainda detalhado e explicado como será a organização e as funções de comando. A transparência é essencial. Tomara que dê certo.

A prancheta não joga

Todos os jogadores de um time precisam ter uma referência tática, conhecer bem suas posições, funções e principais movimentos em campo. Isso é fundamental, o que não significa que tenha que jogar da mesma forma do início ao fim da partida.

Os grandes craques e as grandes equipes são as que, sem perder a organização tática e as referências, surpreendem, inovam e fazem coisas diferentes, em uma mesma partida ou entre um jogo e outro. Essa capacidade de inovar é característica dos grandes talentos, individuais e coletivos. A repetição é importante para aprimorar a técnica, mas, quando excessiva, leva à estagnação e à ineficiência.

Os times que mudam a maneira de jogar durante a partida são muito difíceis de serem rotulados, desenhados em uma prancheta. São defensivos e ofensivos, pragmáticos e criativos, prudentes e ousados. A prancheta não joga.

Tão importante quanto os detalhes técnicos, as estratégias e as estatísticas, é a qualidade do espetáculo. Treinadores, atletas, dirigentes, cronistas esportivos e os apaixonados pelo jogo deveriam priorizar o futebol bem jogado, prazeroso, sem violência, sem excesso de faltas e sem tantas reclamações. Futebol tumultuado, como vemos, com frequência, em muitos jogos pelo Brasil, não é eficiente nem é entretenimento. É um horror, que empobrece o esporte.

Novos caminhos

Espero que os clubes brasileiros e o país encontrem novos caminhos. O tempo passa, pouca coisa muda, e ainda temos de conviver com os negacionistas. O futebol continua, na média, sem brilho, e não diminuem, há décadas, a enorme desigualdade social e tantas outras misérias. Enquanto isso, ainda mais no Natal, aumentam os discursos contra os preconceitos, a pobreza e os corruptos. Muitos que protestam, especialmente os políticos, são os que fazem tudo para destruir o combate à corrupção. Falar é fácil. Difícil é fazer.

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