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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Vedetização dos técnicos prejudica a evolução do futebol

Endeusamento nas vitórias é fascínio mundial, mas mais marcante no Brasil

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"Que jogo é esse?", disse várias vezes o excelente narrador Paulo Andrade, da ESPN Brasil, durante a belíssima partida entre Chelsea e Liverpool. O empate por 2 a 2 beneficiou o líder Manchester City, disparado, com dez pontos à frente do Chelsea.

Uma marca bela e determinante do City são as triangulações dos dois lados, com um ponta aberto, um lateral que fecha para ser um armador e um meio-campista que avança. Para se livrar da marcação perto da área, a bola sai do centro para o lado e volta para o centro, para alguém finalizar. Assim saem muitos gols.

O Liverpool se caracteriza por ser um time compacto, com um trio no meio-campo, que marca e que avança, dois laterais que cruzam muito bem, especialmente o da direita, Alexander-Arnold, com as viradas de bola de um lado para o outro e os passes longos nas costas dos defensores, para os velozes Salah e Mané.

Que jogo é esse? É o ótimo Chelsea x Liverpool de sábado - Toby Melvielle - 2.jan.22/Reuters

No Chelsea, Thiago Silva continua brilhante. O time se parece com o City, na troca precisa de passes, e também com o Liverpool, pelas rápidas jogadas em direção ao gol.

Uma razão da desavença entre o técnico Thomas Tuchel e Lukaku seria o fato de o Chelsea ter conquistado o título europeu sem o centroavante, com muita movimentação do trio de atacantes. Tuchel não estaria entusiasmado com Lukaku, um centroavante fixo, embora se desloque também pela direita, com suas arrancadas. Na seleção da Bélgica, Lukaku joga como no Chelsea. Na Inter de Milão, fazia dupla com Lautaro Martinez.

Ao ver as partidas das principais equipes europeias, principalmente as da Inglaterra, ficam nítidas as diferenças em relação aos times brasileiros. Os jogos são mais intensos, há mais pressão para recuperar a bola, mais troca de passes, mais triangulações e menos espaços entre os setores, menos bolas cruzadas na área, para contar com a sorte, e menos faltas, reclamações e tumultos.

No Brasil, apesar do mau rendimento de muitos clássicos meias de ligação, chamados de camisa 10, como Ganso, Lucas Lima, Cazares, Benítez, Luan e outros, continua o fascínio por esse tipo de jogador. Na Europa, eles desapareceram, com algumas exceções, como o português Bruno Fernandes, do Manchester United, que, nas últimas partidas, tem mudado de posicionamento.

Como os espaços entre o meio-campo e a defesa são muito pequenos, não há necessidade de ter esse meia, para jogar entre os dois setores. Essa função é exercida pelo meio-campista, que marca e avança como um meia ofensivo.

A repetida história de que o Brasil teve cinco camisas 10 na Copa de 1970 é uma lenda. No Cruzeiro, eu jogava com a 8 e, na seleção, atuei como centroavante, com a camisa 9. Jairzinho, camisa 7 no Botafogo e na seleção, atuava da ponta direita para o meio. Gerson e Rivellino eram clássicos armadores em seus clubes. Gerson atuou com a 8 na Copa, e Rivellino, camisa 10 no Corinthians, jogou mais pela esquerda, com a 11. O único clássico camisa 10, ponta de lança, segundo atacante, na seleção e no Santos, foi Pelé.

O endeusamento dos treinadores nas vitórias é um fascínio mundial, mas, no Brasil, é muito mais marcante, badalado, como se tudo o que acontecesse no jogo fosse decorrente do planejamento tático e das decisões dos treinadores. Essa vedetização dos técnicos, os donos da bola e do jogo, prejudica a evolução do futebol.

O encanto de uma partida não está somente no que acontece mas também na imprevisibilidade, no que poderia ter sido.

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