Uma das tarefas mais importantes e difíceis dos treinadores e dirigentes é a contratação de jogadores com qualidade, que não sejam caros e que tragam benefícios técnicos e financeiros ao clube. Penso que alguns clubes contratam jogadores demais. Alguns chegam para somar, como gostam de dizer. Outros, para subtrair. Ganham muito e jogam pouco.
No passado, havia os olheiros, amadores, com fama de descobrir jovens futuros craques. Existem muitas lendas do futebol sobre isso. Com o tempo, progressivamente, os olheiros foram substituídos por analistas de desempenho profissionais, científicos, que ajudam bastante os treinadores nas decisões. Porém, mesmo com tantas informações, as contratações, para dar certo, precisam de conhecimento científico e também de fatores inesperados, de detalhes, objetivos e subjetivos, que vão além do previsto.
A contratação de Hulk pelo Atlético foi, na época, questionável, por causa do enorme investimento. Hulk, pela técnica, pela força física, pela dedicação e pelas muitas facilidades que encontra, na média, no Brasil e na América do Sul, tornou-se um dos principais ou o melhor jogador do país. Contra o Del Valle, fez dois belos gols, após dois passes brilhantes do volante Allan.
A seleção é outro patamar. É discutível se Hulk deveria ou não ser chamado. Ocorre o mesmo com outros jogadores que atuam no país. O nível técnico, no Brasil e na América do Sul, é muito inferior ao da seleção brasileira e ao dos grandes times do mundo. Gabigol, nos melhores momentos, atuou algumas vezes pela seleção e não foi bem.
Nesta semana, o Manchester City contratou o norueguês Haaland, sensação na Europa. Ele será o jogador que vai fazer o City ficar melhor e ser campeão da Europa ou terá muitas dificuldades de se adaptar ao time em que todos os jogadores do meio para a frente são muito habilidosos e trocam muitos passes? Veremos.
Deve dar certo, porque Haaland não se limita a ser apenas um pivô ou um finalizador. Ele é veloz e costuma se posicionar na intermediária, com o corpo de lado, com um olhar no passe e outro no posicionamento dos defensores, para receber a bola na frente. Romário era mestre nesses lances.
Jogadores como Romário, Haaland e outros contrariam os modernos conceitos neurológicos de que o cérebro faz uma coisa de cada vez. São atletas especiais, com uma inteligência espacial e cinestésica, capazes de, em uma fração de segundo, calcular a velocidade da bola e a movimentação dos companheiros e dos adversários.
Dizia-se que Mbappé poderia ir ao Real Madrid. Se fosse verdade, seria bom ou ruim para Vinicius Junior, já que Mbappé é mais completo que o brasileiro e também joga melhor da esquerda para o meio? Vinicius Junior iria para a direita, para ocupar o lugar de Rodrygo, outro excelente jogador.
As grandes equipes do Brasil e do mundo contratam, cada vez mais, excelentes jogadores e, com isso, diminuem as chances de perder para equipes inferiores. Segundo o matemático Marcelo Viana, colunista da Folha, a Universidade de Oxford, na Inglaterra, publicou, recentemente, um trabalho com 88 mil jogos de ligas europeias, realizados entre 1993 e 2019. As vitórias das equipes nitidamente superiores passaram de 60% para 80%.
Penso que os 20% de resultados inesperados são ainda uma porcentagem muito alta, por causa do grande número de partidas. Ainda bem. A incerteza é uma das razões da empolgação, da magia e da popularidade do futebol.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.