Como minhas colunas são publicadas no jornal impresso às quartas e domingos, envio os textos às terças e sextas. Estou sempre em dúvida se escrevo sobre o que ocorreu nos dias anteriores e que já foi bastante discutido ou se falo do que pode acontecer no dia em que sai a coluna no papel. Às vezes, misturo os dois assuntos ou não escrevo sobre uma coisa nem outra. Divago. Divagar é preciso, repetir não é preciso.

Atualmente, por causa dos estádios cheios e das alucinadas festas das torcidas, ocorre algo que sempre foi habitual, no Brasil e no mundo, mas que agora está mais marcante, que é o maior número de vitórias e/ou de boas atuações das equipes da casa, como foi com o Flamengo, que se agigantou, empurrado pela torcida. Já o Atlético parecia inibido, paralisado.

Nem sempre é assim. No meio de semana, também pela Copa do Brasil, os visitantes Fluminense, América e Atlético-GO ganharam fora de casa. São Paulo e Palmeiras venceram em seus estádios, e o São Paulo se classificou nos pênaltis, em uma noite surpreendente, pelos dois pênaltis perdidos por Raphael Veiga. Se marcasse durante a partida, seria o terceiro, e a classificação do Palmeiras seria certa. Detalhes costumam decidir os jogos. Acaso não é sorte. Acaso são fatos frequentes que não sabemos quando e onde vão ocorrer. Sorte é ganhar na loteria.

Os torcedores, a cada dia mais, explodem nos estádios e se sentem, sem modéstia, participantes importantes nas vitórias. Lamentável é a violência dentro e fora dos estádios. Um horror, um reflexo do ódio e da criminalidade que assola o país.

O Flamengo foi muito superior ao Atlético, que não teve uma única chance de gol. Vidal, recém-contratado, que assistia à partida, disse que Rodinei parecia um avião, para defender e atacar com tanta velocidade. Se o Flamengo quer ser um timaço, necessita ser mais regular e brilhar também fora de casa. A má atuação e a derrota para o time misto do Corinthians foram decorrentes da escalação de alguns reservas, da ausência de sua torcida e da competitividade do adversário em casa, onde raramente perde, mesmo com reservas e jogando mal.

A vitória do Flamengo sobre o Atlético foi também estratégica. Os quatro habilidosos jogadores de meio-campo, muito próximos, trocavam passes com facilidade, contra apenas dois jogadores do Atlético, Allan e Jair. Os meias Nacho e Zaracho ficaram perdidos. Não marcavam, não apoiavam nem se aproximavam de Hulk, isolado. Mesmo com o Flamengo sem um meia pelo lado que volta para marcar, o que pode ser um problema em outras partidas, o Atlético não avançava pelos lados nem pelo centro.

Há várias maneiras de jogar bem e de vencer, mas é gostoso ver um time que troca passes e que envolve o adversário, como fez o Flamengo e como joga a maioria das grandes equipes, como o Manchester City, como faz o Fluminense. A treinadora Pia Sundhage disse para as jogadoras da seleção: "Fiquem com a bola".

No Fluminense, Ganso não é um volante que inicia as jogadas no próprio campo, não é um meio-campista que atua de uma intermediária à outra nem um meia de ligação, como sempre foi, que tenta receber a bola entre os volantes e os zagueiros. Ele é tido como um ultrapassado, pela falta de intensidade, não será nunca convocado para a seleção nem contratado por um grande clube europeu, mas como é agradável vê-lo jogar, procurando a bola, trocando passes curtos, com elegância, enganando o marcador. Ganso é Ganso, de seu jeito.