Uirá Machado

Na Folha desde 2004, é formado em direito e em filosofia na USP, foi editor de Tendências / Debates, Opinião, Ilustríssima e Núcleo de Cidades, além de secretário-assistente de Redação

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Uirá Machado

Nova política de Bolsonaro não dura mais que três minutos

Foto com macarrão sintetiza nova política do presidente

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Com indisfarçável ironia, Bolsonaro foi ontem às redes sociais e parabenizou esta Folha pela publicação de reportagem sobre a importância do macarrão instantâneo nas viagens do presidente. "Essa matéria não é fake news", escreveu.

Mais tarde, divulgou uma fotografia na qual aparece em pé, com um sorriso forçado no rosto, uma panela aberta na mão direita e uma embalagem de Nissin Lámen na outra (ele mesmo jamais diria "na esquerda").
A sequência pode facilmente passar como apenas mais uma atuação pitoresca e inofensiva de Bolsonaro, mas, bem observada, revela alguns truques perigosos do presidente.

De saída, o ataque velado à imprensa. Ao afirmar que a reportagem em questão não é fake news, o capitão reformado deixa implícita uma outra mensagem, a saber, que outros tantos conteúdos produzidos por este jornal seriam mentirosos.

Bolsonaro nunca procurou disfarçar sua ofensiva contra a mídia. Como todo populista de perfil autoritário, ele chega ao ponto de agir abertamente contra os veículos que possam fazer uma cobertura independente e crítica de seu governo.

Bolsonaro preparando miojo - Kaio Chagas/Twitter

Se desta vez ele disfarçou a investida, foi porque viu a oportunidade de fustigar o jornal ao mesmo tempo em que exibia seu jeitão humilde. Muitos leitores terão simpatia pelo homem que não gosta de peixe cru e, mesmo vestindo a faixa presidencial, prefere um simples miojo a banquetes suntuosos. 

Por trás dessa imagem também há uma mensagem implícita, a saber, que Bolsonaro representa a nova política, avessa a salamaleques e despida das máscaras da hipocrisia.

O irônico é que a foto sintetiza tudo que há de nova política no presidente. Longe das câmeras, ele distribui verbas e cargos para seduzir aliados, nomeia filhos para posições de destaque, disputa poder dentro do partido, acoberta laranjas, esbanja o cartão corporativo e, claro, se aproxima de caciques do MDB.

Bolsonaro até tenta, mas a verdade é que sua nova política não dura mais que três minutos.

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