Úrsula Passos

Repórter da Ilustrada, coordena o Clube de Leitura Folha e o Encontro de Leituras, parceria do jornal com o português Público, e é mestre em filosofia pela USP.

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Úrsula Passos

Eurídices

Ainda surpreende-nos a mulher mostrada artista, em seu momento de criação.

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Com seis indicações ao Oscar, "Adoráveis Mulheres", filme de Greta Gerwig que vinha ficando para trás na temporada de prêmios de Hollywood, voltou ao radar.

A adaptação do clássico do século 19 de Louisa May Alcott já está em cartaz na cidade, assim como "Retrato de uma Jovem em Chamas", de Céline Sciamma. Com uma história que, por sua vez, se passa no século 17, o longa francês se aproxima do de Gerwig por colocarem ambos a mulher artista no centro da trama.

E eis-nos na poltrona do cinema no século 21 balançando a cabeça em acordo enquanto se desenrola, no primeiro, um diálogo sobre a genialidade destinada apenas aos homens, que dominam a crítica e a teoria, e, no segundo filme, uma conversa sobre a proibição às mulheres do acesso a modelos nus para mantê-las longe dos grandes temas, masculinos em sua maioria, na pintura.

Por isso vibramos ao ver Jo March terminar seu romance, em noites a fio trabalhando, espalhando páginas escritas pelo chão. Ou quando Marianne pinta uma cena de aborto. 

É comum que homens sejam retratados como artistas ou pensadores geniais e que sejam representados em seus momentos de criação e trabalho. Ainda surpreende-nos a mulher mostrada artista, apresentada em seu momento de criação. 

Nos dois longas, mulheres protagonistas movem a narrativa e não se deixam levar por "homens ex machina". Não apenas ambos são dirigidos por mulheres como também foram por elas escritos. Neles, a mulher é objeto e artífice da história e não está sob o olhar e desígnio masculino.

Urge que tomemos o controle de nossa vida e também das histórias, das já contadas e das que ainda vamos contar, que tomemos os meios de produção das narrativas para que, sob nosso olhar, também mulheres sejam elevadas aos mais altos graus da maestria e genialidade.

Ainda que o olhar feminino não precise petrificar o homem, como o da Medusa, devemos passar à frente de Orfeu, para que, quando se volte para trás, seu olhar não nos dissolva.

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