Vaivém das Commodities
Por Mauro Zafalon
Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.
"Meia agricultura" é uma visão do passado; é preciso fazer o certo
Mauro Zafalon/Folhapress | ||
Avaliação de lavoura com drone em Nova Xavantina, MT |
É consenso que a safra de soja do país neste ano, após a queda em 2016, vai voltar ao normal e bater recorde.
Mato Grosso, o principal Estado produtor supera a marca de 2016, e deve chegar a 30,5 milhões de toneladas.
Após percorrer próximo de 20 mil quilômetros pelo Estado, o tradicional Rally da Safra, expedição que passa por lavouras avaliando a situação da produção, aponta esse cenário favorável.
Duas variáveis estão fora de poder de ação dos produtores: clima e oscilações do mercado. Mas aumenta o entendimento que outras ações são controláveis e podem aumentar a renda no campo.
Comercialização e redução de custos estão entre elas. Por isso, o produtor quer a formação de grupos para atuação tanto na compra de insumos como na venda da produção.
Uma das principais discussões nesta safra são as classificações de impurezas e de umidade da soja. Produto tirado do mesmo lote, quando avaliado por diversas tradings, mostra percentuais de classificação muito variados.
"Todo ano temos um ou outro problema relacionado à classificação", diz Arlindo Cancian, presidente do Sindicato Rural de Canarana (MT). Na avaliação dos produtores, a soja precisa sair da fazenda já com classificação.
"Passamos a vida olhando para abertura de áreas e busca de produtividade, mas necessitamos melhorar a renda por meio de outras ações", diz Wilson Fucks, produtor de Querência, no vale do Araguaia.
Sindicato, cooperativas e associações estão no foco desses produtores. "Precisamos aprender a trabalhar com isso e, em grupos menores, fazermos "pool" de compras e de vendas para uma atuação mais efetiva."
Para o agricultor Elio Carlos de Oliveira, é hora de uma revisão de conceitos. O produtor, devido à grande quantidade de afazeres, acabou se esquecendo dessas coisas, também importantes.
O vice-presidente do Sindicato Rural de Querência, Osmar Fizzo, concorda: "é preciso gestão profissional".
Ainda há espaço para aumento de área na região do Araguaia, uma vez que boa parte das pastagens da região encontra-se em estado degradado e deve "virar" agricultura, afirma José Geraldo Netto, da regional da Bayer.
Mas na avaliação dele ainda há uma carência de informações e as empresas buscam suprir as demandas básicas dos produtores com serviços e inovações.
André Debastiani, coordenador do Rally da Safra, afirma que "o que me impressiona é que Mato Grosso está saindo das 50 sacas de produtividade". Os produtores estão deixando de olhar apenas para a lavoura e passam a cuidar mais do "negócio,"
Cancian acredita em mudanças na região, apesar das dificuldades atuais com logística e armazenagem. O pecuarista, sempre mais acomodado, começa a se preocupar, o que é bom para elevar a produtividade da pecuária e dar mais área à lavoura.
Cresce entre produtores a visão de que a agricultura não aceita mais "meia agricultura". É preciso fazer o certo.
O resultado final para o produtor "não é o quanto ele planta, mas o quanto sobra após o fim da colheita", diz Alexandre Alvady Di Domenico, da Agrocam.
O jornalista participou do Rally da Safra a convite da Bayer
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