Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities

Alta do dólar sustenta preço da soja, mas trará pesados custos à agricultura

Produtores vão sentir a conta salgada dos desencontros nas discussões sobre a Previdência

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Os produtores agropecuários vão sentir a conta salgada desses desencontros nas discussões sobre a reforma da Previdência. A falta de uma coordenação séria pelo Planalto e os percalços nas negociações no Congresso provocam desconfianças no mercado, que são refletidas na economia.

Uma das dificuldades recai sobre o câmbio, que atingiu R$ 3,95 nesta segunda (29). A primeira impressão é que esse cenário favorece o produtor.

Os preços das commodities não reagem no mercado externo, mas um dólar valorizado renderá mais reais nas exportações.

Essa alta da moeda americana ocorre exatamente no final de colheita da soja e no período de ritmo acelerado das vendas externas. Muitos produtores, contudo, já anteciparam as vendas e não vão se beneficiar dessa alta.

A evolução do dólar vai afetar, e muito, os custos agrícolas. O produtor ainda terá gastos com a safrinha e começa a preparar a safra 2019/20 de soja.

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Colheita de soja no Paraná - Mauro Zafalon/Folhapress

Os insumos importados vão ficar mais caros em reais. Mesmo os produtores mais profissionalizados, que levam na ponta do lápis custos e receitas, terão dificuldades.

As importações dos principais adubos, por exemplo, subiram 42%, em volume, no primeiro trimestre, em relação a igual período do ano passado. Os gastos em dólares, no entanto, foram 63% maiores.

Além de um real mais fraco, o que torna os produtos importados mais caros, o produtor terá ainda uma possível elevação dos preços dos insumos no mercado externo, principalmente por causa da alta do petróleo.

Está havendo também um aumento nos gastos com importações de insumos agroquímicos, como inseticidas, fungicidas e herbicidas.

Dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) indicam evolução, em dólares, de 25% no primeiro trimestre nesses produtos, em relação ao mesmo período de 2018.

Boa parte dos agricultores está capitalizada, mas a relação de troca tem piorado. A soja, em razão dos estoques mundiais e da alta externa do dólar, tem forte queda na Bolsa de Chicago. O dólar index (uma comparação a uma cesta de moedas) está com a maior alta em dois anos. Dólar alto significa preços de commodities em baixa.

A safra de milho de inverno tem perspectivas de boa produção, mas sofrerá concorrência argentina externa.

O setor de café não vai bem. Os preços externos estão em patamares baixos, e o produtor teria muita dificuldade para assimilar novos custos de insumos provocados por altas do dólar e do petróleo.

O segmento da cana se depara com baixa demanda e preços reduzidos para o açúcar no mercado internacional.

Desta vez, o dólar, se continuar alto em relação ao real, ajudará a sustentar os preços dos produtos agrícolas exportados, mas também trará pesados custos aos produtores. As pressões são não só internas mas também externas.

No campo

A inflação no campo perdeu força neste mês, mas ainda continua acelerada. Segundo acompanhamento da FGV, os produtos agropecuários subiram 0,45% no IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado). A variação é inferior aos 3,90% de março, mas os produtos agropecuários já acumulam uma taxa inflacionária de 6,44% neste ano. Após a alta acentuada do feijão nos primeiros meses, chegou a vez das carnes, principalmente da de frango e da bovina, e do tomate.

Leite A alta que o leite vinha obtendo nos últimos meses perdeu força em abril, segundo o Cepea. Após ter subido 19% de janeiro a março, em termos reais, a evolução deste mês foi de 0,92%, em relação a março.

Limitação A oferta de leite continua limitada no campo, por causa do clima desfavorável. As indústrias, no entanto, diminuíram a pressão de compra por não conseguirem mais repassar os custos para os consumidores.

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