Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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O prazo encurta e americanos não conseguem semear o milho

Ohio, importante estado produtor nos EUA, semeou apenas 9% da área; no ano passado, eram 80%.

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O Meio-Oeste americano vive um dos períodos mais úmidos dos últimos 125 anos. Agricultores das principais regiões produtoras de grãos dizem que nunca viram uma situação tão complicada como neste ano.

Os dados divulgados nesta terça-feira (28) pelo Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) são impressionantes. Apenas 9% da área que seria destinada ao milho em Ohio foi semeada até agora. No mesmo período do ano passado, as máquinas já haviam passado por 80% da área.

Illinois e Indiana, outros importantes estados, têm apenas 24% e 14%, respectivamente, semeados.

A média de plantio dos Estados Unidos indica o atraso no país. Em 2018, faltavam apenas 10% para serem semeados até este período do ano. Em 2019, faltam 51%.

"É uma situação complicada. Chove tanto que a região tem o plantio mais atrasado da história e o com a menor chance de ser terminado", diz Fernando Muraro, da AgRural.

Conforme a chamada "janela ideal" de plantio vai se esgotando, os produtores vão optando por sementes mais precoces. Trocam as de duração de 130 dias pelas de 110 para evitar geadas mais à frente. Mas não há garantias de que conseguirão terminar o plantio.

Área de silos alagada em Nebraska (EUA)
Área de silos alagada em Nebraska (EUA) - Scott Olson - 23.mar.19/AFP

A grande questão, segundo Muraro, é qual o tamanho da área de milho que não será plantada até o final deste mês e quanto desse espaço irá para a soja.

As estimativas indicam que de 2 milhões a 4 milhões de hectares deixarão de ser semeados com milho. Muraro estima de 2 milhões a 3 milhões. Desta área, um milhão irá para a soja, segundo ele. Os que não plantarem deverão buscar a cobertura do seguro.

O abandono de área só não será maior porque os preços do milho começam a reagir e estão em alta na Bolsa de commodities de Chicago.

Com a queda de área e de produtividade, a safra de milho recua, garantindo remuneração melhor para os produtores. Isso é bom para os brasileiros, que poderão ter uma safra recorde do cereal neste ano.

A presença dos americanos será menor no mercado externo, abrindo mais espaço para o produto brasileiro. É bom lembrar, porém, que os argentinos também estão colhendo uma boa e colocarão um volume recorde de milho no mercado internacional.

Brasil e Argentina deverão exportar volumes próximos de 30 milhões de toneladas cada um neste ano.

Muraro acredita que a safra americana de milho não deverá atingir os 382 milhões de toneladas previstos inicialmente pelo Usda. Ele estima um volume próximo de 340 milhões.

Os produtores brasileiros do cereal se beneficiarão com o clima desfavorável nos EUA. Os de soja, no entanto, aguardam o final de plantio da oleaginosa para ver o tamanho do estrago.

Se boa parte da área desprezada pelos produtores de milho for para a soja, a safra americana, prevista em 113 milhões de toneladas, poderá ser ainda maior, aumentando os estoques mundiais e deprimindo os preços.

Brasil e Argentina também têm boa produção da oleaginosa neste ano.

O clima afeta também o plantio de soja. A área média semeada no país é de apenas 19% , abaixo dos 74% do ano passado. Ohio e Dakota do Norte têm apenas 4% da área semeada. O atraso afeta também Illinois e Indiana, onde a semeadura atingiu 9% e 6%, respectivamente.

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