Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Com uso de tecnologia, agronegócio poderia evitar mais desmatamento

Pecuária e soja já atingem patamares de desenvolvimento tecnológico para reduzir estragos

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Dois vetores impulsionam o avanço da agropecuária brasileira: a pecuária e a soja. Essas atividades já atingem, porém, patamares de desenvolvimento tecnológico tão grandes que, se colocados em prática, eliminariam a necessidade de qualquer incorporação de novas áreas de floresta.

Comecemos pela pecuária. O país tem uma área de pastagens de 162 milhões de hectares. Pelo menos 12 milhões de hectares dessa atividade já voltaram para a produção de grãos. Outros 12 milhões deverão ser incorporados nos próximos anos.

A pecuária, como está hoje, é um grande desafio social para o país. Os produtores que não incorporarem tecnologia vão sair da atividade, devolvendo boa parte das pastagens degradas à natureza.

Números de Maurício Palma Nogueira, diretor da Athenagro, empresa que realiza o Rally da Safra com a Agroconsult, mostram o quanto a pecuária ainda precisa evoluir.

A produtividade média do Brasil é de 4,5 arrobas (15 kg cada uma) por hectare por ano. Em 1% das fazendas visitadas pelo Rally da Pecuária, contudo, essa produtividade já chega a 160 arrobas.

 

Em 10% das fazendas incluídas no roteiro anual de visita dessa expedição, a produção é de 36 arrobas por 
hectare por ano. Uma pequena evolução em produtividade dos menos produtivos já reduziria a área de pastagem e aumentaria em muito a produção total do país.

Para Nogueira, o potencial produtivo tropical é expressivo. Se a produção brasileira chegar ao patamar de produtividade de 1% já obtido pelas fazendas visitadas pelo Rally da Safra nos 162 milhões de hectares, apenas o Brasil garantiria a demanda mundial de carne bovina.

E essa garantia seria nos padrões argentinos, os líderes mundiais em consumo —53 quilos por pessoa por ano. O consumo brasileiro é de 42 quilos, e o mundial está em 9.

O diretor da Athenagro lembra, no entanto, que o país ainda está longe do potencial identificado nas fazendas de ponta. O desafio é dar uma boa evolução à parcela menos produtiva.

Isso só ocorrerá com políticas públicas eficazes, acompanhadas de um programa de comunicação e de treinamento, segundo ele.

A soja, que segue os espaços deixados pela pecuária, também tem muito a evoluir. A produtividade média brasileira atual é de 3.000 quilos por hectare. 

O potencial de produção, no entanto, já chega a 6.000 quilos em algumas lavouras do Paraná, do Rio Grande do Sul, de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso.

Isso significa que a área de soja, hoje em 36 milhões de hectares, poderia ser reduzida para 18 milhões. 
Em uma conta inversa, a mesma área atual poderia resultar em uma safra de 240 milhões de toneladas por ano.

Alexandre Cattelan, pesquisador da Embrapa e chefe de transferência de tecnologia da empresa, diz que a tecnologia já está aí. O avanço da produção com tecnologia, porém, depende do produtor.

A genética é importante, mas as boas práticas de manejo são fundamentais. Cuidado com o solo, controle adequado de pragas e de ervas daninhas e período ideal de plantio são essenciais, afirma.

Um fator incontrolável é o clima, mas um solo bem preparado e com boa palhada poderá resistir a um período maior de seca.

Cada região tem suas características e exige preparo e variedades de plantas diferentes. Daí a importância da pesquisa. Cattelan afirma que a pesquisa nacional é necessária para que o Brasil tenha independência tecnológica e continue evoluindo sistematicamente. A tecnologia é dinâmica, diz ele.

As regiões mais complicadas para a agropecuária são Norte e Nordeste, mas a tecnologia já levou parte dessas regiões a boas produtividades.

A Bahia tem o melhor desempenho nacional em algodão, um patamar que supera até o dos Estados Unidos.

Muitos produtores já adotam a política de ter menos terra, mas com produtividade maior. A concentração da produção é também um fator de redução de custos.

Por ora, câmbio e fatores externos têm garantido ganhos aos produtores. Esse cenário poderá mudar, e a produção em áreas com pouco potencial para a oleaginosa poderão ser descartadas.

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