Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Eleição de Fernández traz preocupação para o setor agropecuário argentino

Governo Kirchner fez várias intervenções na política do agronegócio

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O produtor rural argentino teme que a eleição de Alberto Fernández, neste domingo (27), traga uma brusca mudança na política do setor agropecuário.

A preocupação não é sem motivos. A vice-presidente de Fernández, Cristina Kirchner (presidente de 2007 a 2015), fez várias intervenções na política interna e externa do agronegócio argentino durante seu governo.

O resultado foi o setor pagar caro para produzir, perder competitividade internacional e ter de dividir boa parte das receitas com o governo.

Gado em pasto na cidade de Santa Fé (Argentina). 19-09-2014 - Mauro Zafalon/Folhapress

Durante o governo de Cristina Kirchner, o agronegócio viveu um dos momentos mais difíceis das últimas décadas. A administração federal do país colocou pesadas taxas sobre as exportações e, pior ainda na avaliação dos produtores, impôs cotas de exportação.

Estas últimas impediam uma programação de plantio. Os produtores nunca sabiam o quanto plantar porque a definição das cotas só seria feita com base no volume total produzido pelo país.

Foi um período tão difícil que a área de trigo, um dos principais cereais semeados na Argentina, chegou a cair para o menor patamar em cem anos.

Com as contas em frangalhos, e sem receitas, o governo kirchnerista buscou dólares nas exportações do agronegócio. Colocou taxa de 35% nas receitas com as vendas externas de soja, de 23% nas de milho e de 20% nas de trigo.

​Ao assumir, em dezembro de 2015, Mauricio Macri eliminou os impostos sobre milho e trigo e definiu uma redução escalonada de 0,5 ponto percentual por mês para a soja.

Em agosto de 2018, porém, a situação financeira se deteriorou ainda mais e o governo Macri voltou com os impostos sobre o setor agropecuário.

O percentual cobrado nas exportações de soja caiu de 26% para 18%, mas o governo passava a cobrar 4 pesos por dólar arrecadado com as vendas de milho e de trigo.

O campo cresceu no período de Macri e houve uma inversão no ritmo de produção. A área com milho, que tinha recuado para 3,9 milhões de hectares no último ano do governo Kirchner, subiu para 6,4 milhões neste ano.

Já a área de trigo, que tinha recuado para 4,1 milhões de hectares em 2015/16, voltou a crescer no governo atual, somando 6,6 milhões neste ano.

A soja perdeu espaço, recuando de 20 milhões de hectares no final do governo de Cristina, para 18 milhões neste ano, segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires.

Para Daniele Siqueira, analista da AgRural, os impostos devem retornar. O governo deve ter aprendido, no entanto, que a política de cotas e de intervenção no mercado para controlar inflação foi errada.

Os resultados acabaram sendo o inverso do que se pretendia. O produtor, sem uma definição clara das regras, pisou no freio e semeou menos. A Argentina teve queda de produção e perdeu espaço no mercado externo.

A produção e a exportação de carne bovina, uma marca dos argentinos no passado, tiveram forte redução. Só agora o país começa a se recuperar.

A política agrícola a ser adotada por Fernández tem reflexos no Brasil. Se o governo desincentivar o plantio de milho, colocando taxas e cotas no cereal, o Brasil continuará com boa participação no mercado externo deste produto.

Neste caso, os argentinos elevam a área de soja e competem com os brasileiros.

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