Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Ações de Fernandéz e de Trump ainda têm efeitos incertos sobre Brasil

Na Argentina, presidente elevou imposto sobre exportações de cereais e semielaborados

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Dois episódios na área agrícola ocorridos na semana passada podem afetar o Brasil. Mas a extensão desses efeitos ainda depende de definições.

Nos Estados Unidos, Donald Trump anunciou os acertos finais da chamada fase 1 das negociações com a China.

Na Argentina, Alberto Fernandéz elevou o imposto sobre as exportações de cereais e de produtos semielaborados.

Plantação de milho em fazenda na Argentina; novo governo elevou imposto sobre exportações - Marcos Brindicci - 9.abr.18/Reuters

No caso americano, Trump sai da prudência econômica e vai para o apelo eleitoral, uma vez que promete vendas de US$ 50 bilhões em produtos agrícolas para os chineses.

O número agrada ao produtor, importante na base eleitoral de Trump nas eleições de 2020, mas parece exagerado.

Esse patamar poderá até ser conseguido aos poucos, mas, por ora, é elevado. Neste ano comercial, que terminou em setembro, as exportações totais de trigo, milho, soja e de carnes bovina, suína e de frango dos EUA para o mundo todo somaram US$ 51,1 bilhões.

Além disso, os números deste acerto entre EUA e China ainda são bastante incertos. O governo americano coloca na mesa vários valores, mas os chineses não se comprometeram, no papel, com eles.

A China sempre insistiu em que o desfecho final dessa batalha comercial deve ser um ganha-ganha para os dois lados. Um comprometimento dos chineses com um volume fixo de compras dos americanos elevaria os preços e deixaria os chineses de mãos atadas para a aquisição de produtos em outros mercados competitivos, como Brasil e Argentina.

Dificilmente os chineses aceitariam uma situação dessa, na avaliação de Daniele Siqueira, analista da AgRural. Ela destaca ainda que, no caso específico da soja, o volume produzido neste ano foi de 96 milhões de toneladas, abaixo dos 120 milhões de 2018.

Com isso, os estoques finais da oleaginosa cairiam para 12,9 milhões de toneladas em agosto de 2020 nos EUA, bem abaixo dos 24,8 milhões de 2019. Os americanos não têm espaço para grandes vendas.

A grande questão, portanto, será o que dirá o contrato assinado entre os dois países: vendas estipuladas em dólares ou em volume.

Se for em volume, o Brasil manterá boas vendas no primeiro semestre, devido à comercialização antecipada, mas voltará a ter um segundo semestre normal, sem os recentes recordes, diz Siqueira.

No caso argentino, também há muita dúvida sobre os próximos passos do governo. O impacto da política de elevação de taxas recai sobre as margens do produtor.

Se o governo priorizar o mercado interno, inibindo exportações, porém, os produtores argentinos poderão reduzir área de plantio, perder produtividade e deixar maior espaço para os brasileiros no mercado externo, principalmente na soja e no milho.

No caso do trigo, a avaliação é que a sobretaxa de exportação também deverá punir mais o produtor, que terá sua margem reduzida, e que, dessa forma, o importador brasileiro não deve ter grande impacto no custo.

Balanceado

O futuro do setor de soja deverá ter exportações mais balanceadas entre grãos e derivados, segundo André Nassar, da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais). Ele acredita que o país exportará mais farelo, inclusive para a China, devido ao avanço do esmagamento de soja para a produção de biodiesel.

Moratória

As tradings continuam com o firme propósito de não comprar soja de quem desmatou após junho de 2008. Qualquer mudança, mesmo que seja por questão jurídica, terá de ser explicada ao comprador, diz André Nassar.

Se quiser...

O argumento de que, “se quiser, compre, e, se não quiser, não compre” não cabe nessa discussão, segundo o presidente da Abiove, entidade que engloba as indústrias de processamento do setor.

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