Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Já com preço nominal recorde, etanol poderá sofrer reflexo da crise entre EUA e Irã

Demanda interna e entressafra levam preço do combustível a R$ 2,13 por litro na usina

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Sem descontar a inflação, preço atual supera em 24% o registrado há um ano

O preço do etanol atingiu patamares recordes na indústria e está acima de R$ 2 por litro. Nesta terça-feira (7), o valor nominal foi a R$ 2,13, segundo o indicador diário de etanol hidratado da Esalq/BM&FBovespa. O preço atual, sem descontar a inflação, supera em 24% o de há um ano.

Essa alta, por ora, não tem nada a ver com os recentes fatos envolvendo os Estados Unidos e Irã. Ainda não, mas se o desdobramento dessa crise mantiver os preços do petróleo em patamares elevados, o etanol também subirá, com consequências para o bolso do consumidor e para a inflação.

Este é o período do ano de maior pressão nos preços do etanol, uma vez que as usinas estão paradas e só devem recomeçar a produzir a partir da segunda quinzena de março ou início de abril.

Embora o país tenha estoques, uma mudança de humor na economia internacional, provocada pelo petróleo, daria fôlego ainda maior para os preços do etanol.

Na foto, um caminhão da Shell é abastecido
Plataforma de carregamento dos caminhões de etanol, diesel e gasolina da distribuidora Raizen - Eduardo Knapp -10.abr.2019/Folhapress

O consumidor já sentiu no bolso, em 2019, o efeito da forte demanda interna e da consequente alta de preços. Dados divulgados pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) nesta terça-feira mostraram que o etanol hidratado subiu 9,4% no ano passado.

A inflação média da cidade de São Paulo foi de 4,4% no período. A gasolina teve evolução de 4% no ano. Mesmo com uma alta superior, o etanol foi mais favorável ao bolso do consumidor devido à paridade de preços.

Na avaliação dos técnicos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), a alta atual tem causas internas. O Brasil produziu mais etanol nesta safra 2019/20, mas o consumo aquecido manteve os preços em ascensão.

Essa forte demanda interna ocorre porque a paridade dos preços entre o etanol hidratado e a gasolina, próxima de 65% durante boa parte do ano em áreas de grande consumo, foi bastante favorável para o derivado de cana e de milho.

Dependendo do modelo de carro, essa paridade só começa a ficar desfavorável para o etanol quando superar 73%.

A produção de álcool deverá atingir 33,1 bilhões de litros nesta safra, segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), 7% mais do que na anterior. Deste volume, 23,4 bilhões serão de etanol hidratado.

Além do consumo interno de hidratado, que cresceu 15% de abril a outubro, em relação a igual período anterior, as exportações também cooperaram para o aquecimento dos preços. De abril, início da safra, a dezembro de 2019, o país exportou 1,62 bilhão de litros, 15% mais do que no ano anterior, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

Com uma demanda tão forte, as usinas deram prioridade à produção de etanol, segurando a de açúcar. De cada 100 toneladas de cana processada nesta safra, 66 foram para a produção de etanol.

Dados do Cepea indicam que o preço médio deflacionado do etanol ficou em R$ 1,81 por litro nas usinas de abril a dezembro. É um valor que dá margens para a indústria, mas também indica uma recuperação dos preços baixos de há algumas safras, quando esteve a R$ 1,35 por litro nesse mesmo período.

Na avaliação dos técnicos do Cepea, 2020 terá “um pacote favorável” e poderá dar nova folga ao produtor. A demanda deverá continuar aquecida, o Renovabio ativará mais o setor e as exportações poderão aumentar, principalmente devido a novas aberturas de mercado.
 

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