Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vaivém das Commodities

Mesmo com safra recorde em 2021, consumidor pagará caro por alimento

Política econômica interna criou entraves ao setor que, mesmo com a boa oferta de produtos, vão refletir-se em preços altos e dificuldade no abastecimento

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O Brasil não tem escassez de alimentos, quando se trata de produção. A política econômica interna, porém, criou alguns entraves ao setor que, mesmo com a boa oferta de produtos agrícolas vinda do campo, vão refletir-se em preços altos e certa dose de dificuldade no abastecimento interno no ano de 2021.

"O agro vai muito bem, mas as famílias vão sofrer por pelo menos mais um ano com a oferta interna e preços dos alimentos", afirma Fábio Silveira, diretor da MacroSector.

Segundo ele, o Banco Central errou ao permitir uma evolução tão grande da taxa de câmbio. Poderia ter usado parte das reservas para frear essa escalada. A adoção de uma estratégia equivocada vai dificultar o retorno da taxa a patamares razoáveis, afirma.

O problema, segundo o economista, é que a taxa câmbio deste ano, que facilitou tanto as exportações de alimentos, estará ainda mais favorável às vendas externas em 2021. O dólar iniciará o próximo ano com valor superior ao do início deste.

Fernando Muraro, diretor da AgRural, aponta os efeitos que a taxa de câmbio já vem provocando sobre o setor no cenário agrícola do próximo ano.

A safra 2020/21 ainda está sendo semeada, e pelo menos 50% dela já foi comercializada devido à atratividade do Brasil no mercado externo, bastante competitivo, em parte, devido ao câmbio.

Para Marcelo Nonnenberg, técnico de planejamento e de pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), se o dólar ficar próximo dos R$ 6, vai novamente incentivar as exportações e onerar as importações. O resultado será uma menor demanda interna, a menos que o país se recupere desse quadro de queda econômica.

Juntamente com as bolsistas e doutorandas Michelle Martins e Alícia Cechin, Nonnenberg fez um estudo sobre o peso dos alimentos no bolso dos consumidores, destacando principalmente o caso do arroz.

De setembro de 2019 a agosto último, os consumidores pagaram 19,4% a mais pelo cereal. Vários fatores, entre eles o aumento das exportações, devido ao câmbio favorável, foram responsáveis por essa aceleração.

O câmbio pesou muito também sobre os preços de outros cereais, de leguminosas e de oleaginosas, assim como sobre carnes e óleos, apontaram os pesquisadores do Ipea, com base em dados de inflação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O próximo ano ainda é uma grande incógnita, principalmente com relação à maneira como o governo vai administrar o fim do auxílio emergencial, afirma Nonnenberg. Será um período de demanda menor por alimentos sem esse auxílio e sem o dinheiro liberado pelo FGTS.

Silveira complementa que as famílias vão ter de destinar parte da renda para outras finalidades, como vestuário e serviços. Sem o auxílio emergencial em 2021, a massa salarial cai 4,5%, diz o economista.

O agricultor não terá problemas com rentabilidade nesta safra que está sendo plantada, segundo Muraro. Ele tem um momento muito especial em termos de preços pra seus produtos.

Esperava-se que o câmbio recuasse para R$ 3,30 com a eleição de Jair Bolsonaro. Ao contrário, ficou em R$ 4 em 2019, está acima de R$ 5 neste ano, e não há sinais de queda. Além disso, o custo de produção não subiu.

O que é bom para o produtor, no entanto, poderá não ser para o consumidor. A renda deve ficar concentrada no campo, mais uma vez, e diminuir nos grandes centros.

O país construiu um modelo exportador de alimentos bastante eficiente, mas o mesmo câmbio que facilita as vendas externas dificulta as importações e, quando essas ocorrem, trazem para dentro do país o peso do dólar valorizado.

O mesmo vale para as carnes brasileiras, cada vez mais presentes no mercado externo. O preço do boi subiu o morro há um ano, e não desceu mais. Suínos e frango acompanharam.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.