Os consumidores vão sentir cada vez a pressão da inflação no bolso. Os preços dos produtos industriais na porta das fábricas, sem impostos e sem frete, estão com a maior alta desde a criação do chamado IPP (Índice de Preços ao Produtor) pelo IBGE, em 2014.
A inflação nas indústrias já atinge 19,1% nos últimos 12 meses, e a pressão está bastante acentuada neste segundo semestre. Os alimentos são o carro-chefe, com alta de 35,9% de novembro do ano passado a outubro deste.
O aumento dos preços das commodities no campo chega aos custos das indústrias. A alta do dólar, que dá competividade ao produto brasileiro no exterior, e a demanda aquecida da China, que favoreceu as exportações, incentivaram essa evolução de preços.
No primeiro semestre, o IPP dos alimentos teve uma evolução de 8,1%, com uma média mensal de 1,3%. Já no segundo, em apenas quatro meses, a alta é de 18,8%, com uma taxa média mensal de 4,4%.
Embora o cenário econômico não seja bom, boa parte desses custos será repassada, exatamente em um período de salários mais curtos.
Entre os dez bens intermediários que tiveram as maiores pressões no IPP, oito são da área agrícola. Os principais já são conhecidos: arroz, soja, carnes e açúcar. Em alguns casos, como no de óleo de soja, a alta chega a 72% em 12 meses.
País tem capacidade de colher soja, apesar da concentração, diz Conab
A concentração do plantio de soja em poucas semanas, como ocorreu neste ano, não preocupa Guilherme Soria Bastos, presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), quando se trata de colheita e de armazenagem.
Para ele, o Brasil tem boa capacidade de plantio e de colheita. Claro que, se ocorrerem muitos dias seguidos de chuva no período de colheita, poderá haver um atraso.
Essa eventual colheita tardia levaria a um atraso no plantio da segunda safra. O produtor, contudo, sempre planta sabendo da estrutura de que dispõe para colher, afirma o presidente da Conab.
Em relação à armazenagem, nessa época os armazéns de grãos estão vazios, já esperando a colheita. Em muitas regiões, a soja nem chega a ser armazenada. Ela passa pelo armazém apenas para secagem, afirma Bastos.
Além disso, apesar da concentração do plantio, há uma diversidade muito grande do ciclo das variedades de soja, o que ajuda a escalonar a colheita.
A área onde não será semeada a segunda safra de milho é cultivada com variedades de ciclo mais longo, afirma.
Diante dessa preocupação com o cenário deste ano, a Conab verificou o que ocorreu na safra 2019/20. Em Mato Grosso, líder nacional de produção, a média de colheita semanal foi de 770 mil hectares, considerando-se do início ao final da colheita.
Já a capacidade máxima das máquinas no estado é de 2,5 milhões de hectares por semana. No Paraná e no Rio Grande do Sul, outros dois importantes produtores, a média de colheita de soja foi de 400 mil hectares por semana, mas a capacidade máxima das máquinas nesses estados chega a 1,1 milhão de hectares por semana.
A capacidade de colheita do país supera em muito a necessidade média semanal, como mostram os dados. Apenas um excesso de chuvas complicaria a ação das máquinas no campo, segundo a Conab.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.