Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Soja tem maior preço em quatro anos em Chicago e Brasil fica fora da festa

País, que já importou 648 mil toneladas no ano, paga 9% pelas importações do que recebe pelas exportações deste mês

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A soja atingiu o maior valor de negociação dos últimos quatro anos na Bolsa de Chicago, nesta terça-feira (17). A alta ocorre em um momento em que os brasileiros estão fora do mercado de exportação e mantêm um ritmo de importação acima do normal.

As exportações brasileiras, levadas praticamente pela China, somam 82,4 milhões de toneladas do início de janeiro à segunda semana deste mês. Já as importações, que começaram a acelerar a partir de junho, somam 684 mil toneladas.

Safra de soja 2020, colheita no estado do Paraná - 05.03.2020 - Jaelson Lucas / AEN

As exportações brasileiras fluíram em um ritmo bem acima do normal no primeiro semestre do ano, o que forçou as indústrias a elevarem as importações a partir de julho. Naquele mês, o Brasil já havia comprado 400 mil toneladas de soja no exterior.

O país praticamente não tem mais soja para vender, e o pouco que exporta é por um preço inferior ao que paga nas importações. Em média, o país está comprando soja no exterior a US$ 398 por tonelada, com alta de 9% em relação ao que recebe pelas exportações, conforme dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

A soja para a entrega em janeiro do próximo ano chegou a US$ 11,7825 por bushel (27,2 quilos) nesta terça na Bolsa de Chicago, o maior valor desde 30 de junho de 2016. Neste período do ano, apenas os americanos, que estão terminando a safra, têm soja para vender.

A tendência de alta dos preços vinha se concretizando desde setembro, mas ganhou força em outubro. A China, como fez no Brasil, elevou as compras nos Estados Unidos para patamares recordes.

De setembro até 5 deste mês, os registros de exportações dos Estados Unidos somavam 49,9 milhões de toneladas , um recorde para esse período. Esse volume representa 83% de tudo que os americanos vão exportar de setembro desde ano a agosto de 2021, ano comercial dos EUA.

Até este mês, os chineses já compraram 27,6 milhões de toneladas de soja dos americanos desta safra 2020/21, um volume jamais registrado anteriormente.

Desse total, 14,2 milhões de toneladas estão a caminho da China. O restante, que tem data até 31 de agosto de 2021 para ser embarcado, praticamente deverá sair dos EUA até janeiro.

Daniele Siqueira, analista da AgRural, diz que não são apenas as compras dos chineses que incrementam os preços nos Estados Unidos. O atraso no início do plantio brasileiro e o efeito psicológico das importações nacionais --o Brasil é o maior produtor e exportador-- deram força aos preços.

Além disso, a safra americana não foi tão boa como se esperava. A mais recente estimativa do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) reavaliou o volume da produção para 113,5 milhões de toneladas, abaixo dos 120 milhões esperados.

A investida da China no mercado americano, como fez no Brasil, derrubou os estoques americanos para um dos menores patamares da história do país.

Os EUA vão terminar a safra 2020/21 com apenas 5 milhões de toneladas de soja. Há duas safras, devido à guerra comercial com a China, tinham 24 milhões.

Com isso, os olhares se voltam novamente para a safra da América do Sul. Qualquer problema climático no Brasil ou na Argentina complicará o abastecimento mundial e esquentará ainda mais os preços.
Brasil, Estados Unidos e Argentina são os maiores produtores mundiais da oleaginosa.

O aquecimento externo dos preços favorece os preços internos. Os poucos que ainda têm o produto conseguem até R$ 170 por saca, um preço inimaginável até pouco tempo.

A alta da soja se espalha pelo resto da economia brasileira, elevando os preços da ração, do custo de produção de carnes, do óleo comestível, do biodiesel, além de pressionar os custos de produtos de limpeza, higiene e beleza.

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