Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Seca e Covid-19 podem reduzir área de algodão em 15%

Os efeitos do coronavírus estão abaixo do previsto, mas a irregularidade das chuvas pode ser o grande desafio

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Incertezas sobre a demanda mundial, devido à Covid, e problemas climáticos no Brasil poderão reduzir a área de algodão em 15% na próxima safra.

O mercado mundial parece não estar tão ruim como se imaginava inicialmente, mas o efeito da seca, que provoca atraso e até replantio da soja, ainda é um desafio para o produtor. A segunda safra é semeada após a retirada da soja do campo.

O clima preocupa, mas os efeitos sobre o setor será melhor conhecido a partir de fevereiro, segundo Milton Garbugio, presidente da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão). Por ora, a estimativa de área menor ainda é bastante preliminar, mas pode até aumentar, diz ele.

As estimativas iniciais de redução de área, antes de se conhecer os possíveis efeitos do clima, trazidos pela La Niña, eram de 11%.

Júlio Busato, que assumirá a presidência da entidade em janeiro, diz que o coronavírus não teve grandes efeitos sobre o setor. Já há um isolamento natural no campo, e a preocupação era com o processamento do algodão nas algodoeiras.

Foram criados protocolos de segurança, e o setor passou pelo coronavírus um pouco chamuscado, mas sem grandes problemas, segundo ele.

A expectativa inicial de queda no plantio ocorreu porque o setor acreditava que o consumo mundial, que tinha sido de 27 milhões de toneladas, recuasse para 22 milhões nesta safra. Isso não ocorreu, e as estimativas atuais são de uma demanda de 25 milhões.

Por ser uma cultura cara, cerca de US$ 2.500 por hectare — a soja tem custo de US$ 800—, o produtor está avaliando bem o plantio. Há uma preocupação com custos de insumos, como fertilizantes e agroquímicos, e com a logística de entrega.

O produtor vai ficar de olho nos preços do algodão na Bolsa de commodities de Nova York, onde são definidos os valores mundiais de negociações, e verificar a rentabilidade da fibra, diz Busato.

Independentemente da área a ser semeada, o presidente da Abrapa diz que não faltará algodão para a indústria nacional. O consumo será de 650 mil toneladas em 2021, e a safra cerca de 2,6 milhões. Além disso, o país tem 400 mil toneladas em estoques.

Do algodão a ser semeado, 50% da produção esperada já foi comercializada. Na safra anterior, o percentual foi de 75%, mas a média histórica de vendas antecipadas é de 40%.

Busato diz que o país demorou muito para participar do mercado internacional de algodão, ao contrário dos Estados Unidos e da Austrália que há muitos anos exportam.

O que não pode ocorrer é o país, após conquistar vários mercados e ocupar o posto de segundo maior exportador mundial, não ter algodão para oferecer aos importadores.

O setor, junto com a Apex-Brasil, está investindo R$ 5 milhões em um programa de divulgação do produto no exterior. A cultura do algodão, que começou a tomar corpo há quatro anos, é muito importante para o agronegócio, segundo Busato.

O algodão tem um faturamento três vezes superior ao da soja e emprega cinco vezes mais do que a cultura da oleaginosa.

A China é o grande mercado. O país fica com 22% do algodão transacionado mundialmente e com 37% do produto brasileiro comercializado no exterior. Mas o Brasil não tem como meta apenas o mercado chinês. Os produtores olham para nove países da região, entre eles Vietnã e Bangladesh.

O algodão ganhou muita força nos últimos anos no Brasil. A produção somou 1,3 milhão de toneladas de pluma na safra 2015/16. Na atual, chegou a 3 milhões. Isso se deve ao aumento de área, mas, principalmente, à produtividade. Ela saiu de 1.350 quilos por hectare, naquela safra, para os atuais 1.802.

O VBP (Valor Bruto da Produção), que mostra as receitas dentro das fazendas, está em R$ 51 bilhões por ano, bem acima dos R$ 30 bilhões de 2017, segundo dados do Ministério da Agricultura.

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